China

Nos últimos anos, temos sido testemunhas de um aumento das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China. O rápido crescimento das últimas décadas e o domínio chinês em diversas tecnologias, a exemplo do 5G cuja disputa envolveu uma série de controvérsias e até a prisão da presidente da Huawei no Canadá, têm sido vistos pelos americanos como uma ameaça à economia dos Estados Unidos.

Abertura

A partir da década de 80, a China acelerou o seu processo de industrialização através de uma abertura econômica, permitindo o investimento estrangeiro e a entrada de empresas internacionais em seus mercados. Isso ajudou a atrair capital, tecnologia e conhecimento especializado para o país. A mão-de-obra barata e uma legislação ambiental quase inexistente ajudaram a atrair indústrias que buscavam reduzir seus custos de produção.

FRASE

"A China é um país de mistério e um mistério envolto em um enigma"

Winston Churchill, ex-primeiro ministro britânico

Produção

Com essa atração, a China rapidamente tornou-se um dos maiores centros de produção industrial do mundo. Seguiram-se investimentos massivos em infraestrutura (geração de energia, estradas, portos, ferrovias e aeroportos) que potencializaram o crescimento do país, tornando a China um grande demandante de matérias primas e um centro de produção e fornecimento de componentes e produtos para empresas em todo o mundo.

Expansão

A intensificação do comércio internacional, dentro do processo de globalização, permitiu a integração da China à economia mundial, fazendo com que o país alcançasse uma participação enorme nas cadeias produtivas globais, consumindo commodities produzidas em todo o mundo e inundando o mercado internacional com produtos de preços baixos. Tanto para o bem como para o mal.

Lado bom

O lado bom desse processo foi que o enorme ritmo de crescimento da China permitiu que vários países pegassem carona em seu crescimento, principalmente fornecedores de matérias primas. O Brasil foi muito beneficiado pela forte demanda chinesa entre 2000 e 2008. O acesso a produtos mais baratos também permitiu que muitas pessoas ao redor do mundo aumentassem o seu nível de consumo e seu padrão de vida. 

Lado ruim

O lado ruim é que a expansão da produção chinesa feriu o setor industrial ao redor do mundo. Vários segmentos industriais se encontraram em dificuldades por não conseguir competir com os produtos chineses, que era beneficiada pelo seu baixo custo de produção mantido por baixos salários e fraca legislação ambiental. Muitas empresas chegaram a mover parte ou toda sua produção para a China.

Deslocamento

No entanto, essa estratégia que parecia vencedora foi colocada em xeque com a pandemia de Covid, que abalou o fluxo das cadeias internacionais de produção. Mais recentemente, a elevação das tensões comerciais entre Estados Unidos e China também levanta dúvidas. Por exemplo, os Estados Unidos têm tomado medidas para restringir o uso de tecnologias chinesas, como o caso do 5G, por parte das empresas americanas e seus parceiros. 

Deslocamento 2

Neste cenário, alguns analistas começaram a prever um possível deslocamento de cadeias produtivas para outras regiões. As empresas e países estariam buscando diversificar suas cadeias produtivas e reduzir sua dependência da China, especialmente em setores sensíveis ou estratégicos. Embora exista essa tendência de diversificação e uma maior atenção aos riscos políticos e comerciais envolvendo a China, ainda é cedo para afirmar que esse é um movimento generalizado.

Souvenir de Chine

Ao escrever essa coluna, me lembrei da música "Souvenir de Chine" do compositor francês Jean Michel Jarre. A composição, de 1988, mistura sons eletrônicos com melodias e instrumentos tradicionais chineses, além dos sons mecânicos dos cliques de uma máquina fotográfica Nikon F3, de fabricação japonesa, que o músico usou em sua primeira turnê na China. Lembranças de uma outra época. Hoje as fotos são feitas em celulares, todos de fabricação chinesa, sem emitir nenhum som.