(REUTERS/Bruno Domingos/Direitos Reservados)
A taxa de câmbio entre o Dólar e o Real segue em um ritmo de grande volatilidade. Desde o começo do ano, a cotação do Dólar já subiu quase 12%, saindo de um patamar de R$ 4,85 para a atual faixa dos R$ 5,43. No começo desse mês, a cotação do Dólar chegou a alcançar valores tão altos como R$ 5,70. No período de apenas 30 dias, tivemos uma escalada de 6% na cotação do Dólar, seguida de uma queda de 4,7%.
Movimentação
Essa volatilidade é facilitada pela grande participação de capitais estrangeiros na economia brasileira. Com a globalização e a maior liberdade de movimentação de capitais entre os países, torna-se fácil destinar recursos para localidades diferentes. Isso potencializa os fluxos de capital estrangeiro que entram e saem do país, o que acaba tendo impactos no câmbio pela maior ou menor oferta de moeda estrangeira no país.
a frase
“A vida não consiste em ter boas cartas, mas em jogar bem com aquelas que você tem".
Josh Billings, jornalista norte-americano
Causa
Obviamente, a liberdade de movimentação de capitais não é a causa original da volatilidade cambial. Esta causa são os cenários econômicos interno e externo, que estabelecem diferentes expectativas de crescimento, de risco e de rentabilidade aos investimentos internacionais. A liberdade de movimentação de capitais é apenas a condição que possibilita que os fluxos de entrada e saída de moeda produzam volatilidade.
Volatilidade
Um exemplo da volatilidade atual é a variação da cotação do Dólar nesta última terça-feira. A moeda norteamericana começou o dia cotada a R$ 5,45. Nas primeiras horas do pregão, a cotação iniciou um movimento de queda até alcançar R$ 5,41 (-0,73%). Depois disso, o movimento se reverteu e o valor da moeda norte-americana subiu até R$ 5,46 (+0,92%). No fim do pregão, nova queda e o Dólar terminou o dia valendo R$ 5,43 (-0,55%).
Balança Comercial
O saldo da balança comercial é um dos fatores que influenciam os fluxos de oferta e demanda de moeda estrangeira. Quando as exportações superam o valor das importações, o país registra entrada líquida de moeda estrangeira, favorecendo a queda na taxa de câmbio. O saldo da balança comercial tem sido favorável ao Brasil, com saldo líquido de US$ 46,1 bilhões desde o começo do ano.
Fluxos Financeiros
Não são os fluxos comerciais os responsáveis pela volatilidade no mercado de câmbio, mas sim os fluxos financeiros. Para se ter uma ideia, cerca de 10% a 15% dos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional estão em posse de investidores internacionais. Não se trata de dívida externa, claro, pois os valores estão todos em Reais, mas de qualquer forma isso mostra a influência do capital estrangeiro no país.
Bolsa de Valores
Na bolsa de valores, a influência do capital estrangeiro é ainda maior. De todo o volume negociado na B3 este ano, 54,8% foram movimentados por investidores estrangeiros. Desde 2021 que os investidores estrangeiros são responsáveis por mais da metade dos negócios feitos na B3, considerando a soma dos mercados à vista, a termo e opções.
Bolsa de Valores 2
Estamos falando aqui de valores muito significativos. O volume total negociado na B3 esse ano acaba de atingir R$ 3,15 trilhões. Para ter uma noção de comparação, o PIB brasileiro em 2023 foi de R$ 10,9 trilhões. Os investidores estrangeiros já movimentaram R$ 1,73 trilhões na bolsa brasileira até agora, apresentando saída líquida de recursos em cada um dos meses do primeiro semestre. Quase R$ 39 bilhões foram embora nos primeiros seis meses do ano.
Faria Lima
Quando os movimentos do mercado financeiro são interpretados como meras especulações do "pessoal da Faria Lima", é preciso lembrar da grande participação do capital estrangeiro no mercado brasileiro. Se colocarmos as coisas nas devidas proporções, poderemos acabar descobrindo que a "famigerada" Faria Lima não é uma avenida de São Paulo. Ela sequer fica dentro do Brasil.