xeque-mate da economia

Câmbio

Estéfano Barioni
29/06/2022 às 20:28.
Atualizado em 30/06/2022 às 08:19
Nos últimos 30 dias, o Real perdeu bastante valor frente ao Dólar. (Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)

Nos últimos 30 dias, o Real perdeu bastante valor frente ao Dólar. (Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)

Nos últimos 30 dias, o Real perdeu bastante valor frente ao Dólar. Nesse período, a cotação da moeda norte-americana passou de R$ 4,73 para a faixa atual em torno de R$ 5,27. Trata-se de uma valorização de 11,4% sobre o Real, em apenas um mês. Em relação ao Euro, o Real também teve uma significativa desvalorização, com a moeda europeia passando de R$ 5,08 para R$ 5,54, com 9% de alta.

Inflação

A desvalorização do Real frente a essas moedas beneficia as exportações, mas prejudica o combate à inflação devido ao encarecimento dos insumos importados. O dólar alto pressiona os preços dos combustíveis, especialmente o do óleo diesel, cuja importação foi responsável por 30% do atendimento da demanda interna no ano passado. Com o dólar mais alto, as importações ficam mais caras.

FRASE

"O dólar é a principal moeda de reserva do mundo."
Robert Solomon, filósofo norte-americano

Desdobramentos

A elevação nos custos de importação de óleo diesel pode provocar novos reajustes e aumentos nos preços internos dos combustíveis, sendo transmitidos para toda a economia através dos custos de transporte. Além disso, o Brasil importa diversos insumos para o setor industrial, equipamentos e até produtos finais e o dólar mais elevado encarece todas essas cadeias de produção. 

Eletricidade

Até a geração de eletricidade é impactada pelo dólar. A usina que gera mais eletricidade no Brasil, a usina de Itaipu, gerando cerca de 10% de toda a eletricidade consumida no país, negocia sua energia em dólares. Como a usina se localiza na divisa entre Brasil e Paraguai, e pertence aos dois países, toda a energia que ela comercializa é vendida em dólares. Se o dólar sobe, a eletricidade de Itaipu fica mais cara. 

Equilíbrio Cambial

Com todos esses impactos, e muitos outros que não foram citados, é interessante buscar entender as razões por trás da recente desvalorização da moeda, e avaliar se essa desvalorização se trata de um movimento circunstancial e temporário ou se esta é uma mudança de patamar no equilíbrio cambial que deve se manter no curto prazo. 

Dois Fatores

Dois fatores principais contribuíram para a perda de força do Real frente às principais moedas estrangeiras no último mês. O primeiro é a diminuição do diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos e o segundo é o aumento do risco político e fiscal que acompanha a aproximação do período eleitoral. 

Diferencial de Juros

Com o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos, os investimentos na renda fixa americana têm sua rentabilidade aumentada e atraem mais recursos internacionais que deixam de ser investidos em países emergentes, como o Brasil. O diferencial de juros diminui e o fluxo de moeda estrangeira torna-se um fluxo de saída nesses países, fazendo o valor da moeda local cair. 

Diferencial de Juros 2

No começo de maio deste ano, o dólar estava cotado a cerca de R$ 5,00 e a diferença na taxa de juros oferecida no Brasil para aquela oferecida nos Estados Unidos era tal que mantinha um diferencial de juros de cerca de 4,75%, já descontando as inflações em cada país e os prêmios de risco. Atualmente, o diferencial de juros caiu para cerca de 3,65% e a cotação do dólar subiu para R$ 5,26. 

Risco País

Além disso, também se verificou um aumento no risco político. Com a aproximação das eleições, cresce a possibilidade de que o governo aumente os gastos e adote políticas fiscais irresponsáveis para adquirir maior apoio eleitoral. Esse risco é capturado pelo risco-país que saltou de 3% para 3,5% em um mês. Ou seja, agora os ativos brasileiros precisam oferecer uma remuneração adicional de 0,5% para compensar o risco aumentado. 

Projeção

A menos que o Banco Central mantenha o ciclo de aumento das taxas de juros, alcançando taxas por volta de 15% ao ano, é difícil que a taxa de câmbio retorne a um patamar de R$ 5,00 ou menos. O mais provável é que o atual patamar seja mantido no curto prazo, tanto pelas condições econômicas externas como pelo risco político e fiscal que deve permanecer até o fim do ano.
 

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por