As Bitcoins e outras criptomoedas têm sofrido bastante nos últimos meses e acumulam grandes perdas de valor (Divulgação)
A alta da inflação em todo o mundo e os principais bancos centrais passando a adotar políticas monetárias contracionistas, exceto na Europa e no Japão, com elevação da taxa de juros, faz com que o cenário econômico mundial se torne mais avesso ao risco. Com isso, os ativos mais tradicionais ganham destaque e os menos conservadores sofrem, como é o caso do Bitcoin.
Valor e Risco
O FED, o banco central dos Estados Unidos, está aumentando suas taxas de juros, aumentando também a remuneração dos títulos públicos norte-americanos, que são considerados os ativos mais seguros do mundo. O investidor passa a ter maiores rendimentos sem correr riscos. E isso faz com que caia a procura (e o valor) dos demais ativos, que são mais arriscados.
A FRASE
"O melhor que o Bitcoin pode esperar é ser uma versão de segunda categoria do ouro, se tanto."
Andrew Ross Sorkin, jornalista norte-americano
Ganhos
O Bitcoin não rende juros (como dinheiro aplicado no banco), não gera dividendos (como ações de empresas) e nem gera aluguéis (como investimentos imobiliários). É um ativo que oferece apenas ganho de capital. A estratégia é comprar e esperar valorizar. É como investir em ouro, mas enquanto o ouro é uma reserva de valor reconhecida mundialmente desde antes do descobrimento da América, o Bitcoin é apenas o Bitcoin.
Segurança
De um lado existe o dólar, cujo valor é reconhecido no mundo inteiro e com títulos da dívida americana rendendo a 3% ao ano no longo prazo. Não é um rendimento formidável, mas é líquido e certo. Do outro lado, existe o Bitcoin, que não oferece nenhum tipo de rentabilidade e cujo valor depende exclusivamente da demanda especulativa.
Queda
Em novembro do ano passado, o Bitcoin estava cotado a cerca de US$ 58 mil. Hoje, a cotação está por volta de US$ 29,2 mil. Trata-se de uma desvalorização de quase 50% em apenas 6 meses. Considerando a conversão em Reais, as perdas são ainda maiores. Em novembro, o Bitcoin valia o equivalente a R$ 322 mil. Hoje está por volta de R$ 144 mil, com mais de 55% de queda.
El Salvador
Essa forte desvalorização não é apenas uma curiosidade do mundo dos investimentos, mas está produzindo efeitos bem reais em alguns lugares. Em setembro do ano passado, El Salvador instituiu o Bitcoin como uma das moedas legais do país, ao lado do Colón Salvadorenho (a moeda nacional) e o dólar americano. Todas essas três moedas são aceitas nas transações correntes no país.
Polêmica
A ação é polêmica, para dizer o mínimo, e foi promovida pelo atual presidente, Nayib Bukele. A ideia era de que o uso do Bitcoin poderia dinamizar a economia, gerando mais empregos e desenvolvimento. O governo bancou a instalação de 200 caixas eletrônicos para transações de Bitcoins e deu a cada cidadão uma carteira virtual com o equivalente a 30 dólares em Bitcoins.
Moeda Legal
Além disso, foi feito um esforço para fazer com que a maioria das empresas e o comércio passassem a aceitar o Bitcoin em suas transações diárias. Uma vez que se trata de uma moeda legal no país, as empresas ficam obrigadas a aceitá-la. O próprio governo passou a comprar Bitcoins, aceitar o pagamento de tributos através da criptomoeda e até a emitir títulos de dívida em Bitcoins.
Instabilidade
No entanto, a falta de lastro e a alta volatilidade complicam as operações e trazem instabilidade à economia local, podendo causar danos ao sistema financeiro do país. Além disso, tem o potencial de aprofundar a desigualdade, uma vez que a utilização do sistema requer o uso de internet (afinal, é uma moeda digital), mas apenas 55% da população do país tem acesso estável à internet.
Aventura
Mesmo assim, a desvalorização não desencorajou o presidente salvadorenho, que dobrou a aposta, e recentemente comprou mais 500 Bitcoins ao preço de US$ 30,7 mil cada. Agora, El Salvador tem 2.301 Bitcoins em suas reservas nacionais. Foram adquiridos ao custo de US$ 107 milhões, mas hoje valem pouco menos de US$ 68 milhões. As aventuras de um presidente podem sair muito caras para o país.