Automóveis (Marcelo Camargo/ Agência Brasil)
Nesta semana, a União Europeia determinou que automóveis movidos a óleo diesel e a gasolina não poderão mais ser vendidos a partir de 2035. A decisão é um marco na transição para uma economia de baixo carbono e é emblemática no sentido de mostrar o poder que os governos e as instituições podem exercer na sociedade, sinalizando tendências que influenciam ações e comportamentos.
Ambiente
A medida está alinhada aos programas de redução de emissões de dióxido de carbono elaboradas pelo continente europeu, que também tem sido atingido por eventos climáticos extremos, tais como ondas de calor intenso, inundações violentas nas cidades e longos períodos de estiagem que afetam a produção agrícola e o abastecimento de água em geral. Os investimentos em mitigação (ou seja, em atenuar as causas) tendem a ser menores do que os investimentos em adaptação aos efeitos.
FRASE
"Planejar é trazer o futuro para o presente para que você possa fazer algo agora."
Alan Lakein, escritor norte-americano
Estratégia
Além disso, há o aspecto estratégico. O continente europeu não é um grande produtor de petróleo e importa quase que inteiramente todo o petróleo bruto que consome, sendo que cerca de 40% dessa importação era fornecida pela Rússia. Com a guerra na Ucrânia, o fornecimento sofreu cortes de um lado e sanções econômicas de outro, tendo como resultado uma escalada dos preços da gasolina e do óleo diesel no continente. Certamente esse evento acelerou a decisão.
Velocidade
Para os ambientalistas, no entanto, a aceleração não foi intensa o bastante, pois até 2035 teremos um longo de período de doze anos. Mas a pergunta que fica é: teria como ser diferente? Além das dificuldades de realizar uma transição deste porte em um período curto, não se pode desprezar os efeitos que são colocados em marcha a partir da simples tomada de decisão.
Prazo
Em primeiro lugar, doze anos não é um prazo tão longo assim. A construção de uma usina nuclear, por exemplo, leva em média 10 anos desde o projeto até o início da operação. E nem estamos falando de Angra III, cuja construção começou em 1984 e ainda está longe de operar. Doze anos é um prazo até curto para um programa que envolva uma mudança estrutural grande tal como a substituição de combustíveis fósseis por eletricidade ou combustíveis alternativos.
Estrutura
A Europa possui uma grande estrutura de refino, pois o continente importa petróleo, mas produz seus combustíveis. Essa indústria não irá ser realocada da noite para o dia. Além disso, a oferta de veículos alternativos ainda não é grande o bastante. As cidades ainda não estão preparadas para uma frota inteira de carros elétricos, por exemplo. Ainda faltam pontos de recarga e a própria rede elétrica precisa se tornar mais robusta.
Sinalização
Além disso, há a questão dos consumidores. Se a decisão de vetar a venda de carros a gasolina e diesel é tomada com um prazo curto, de 4 anos por exemplo, o que acontece com quem acabou de comprar um carro a gasolina? O valor de revenda desse carro tende a zero. Quem irá comprar um carro a gasolina ou a diesel sabendo que logo mais nem os fabricantes poderão vender esses tipos de carros?
Sinalização 2
Esse é o ponto importante da decisão tomada pela União Europeia: induzir uma mudança. Muito antes de 2035, o cenário terá mudado pois os consumidores já estarão preferindo carros com combustíveis alternativos e a indústria e as cidades terão se adaptado a isso. E note-se que as autoridades não determinaram qual deve ser o substituto: veículos elétricos, a etanol ou a hidrogênio. Essa é uma questão de mercado, a ser decidida entre indústria e consumidores.
Planejamento
Uma sinalização é capaz de alterar e induzir comportamentos na direção desejada, dando tempo para que as melhores soluções sejam encontradas entre produtores e consumidores. Esse é um grande papel do Estado na economia, um papel que geralmente produz efeitos muito melhores do que intervenções diretas, pois essas tendem a causar grandes distorções.