Fachada da sede do Copom (Divulgação)
Foi divulgada a ata da reunião do Copom, realizada na semana passada, e que promoveu um novo corte de 0,5 ponto percentual na taxa Selic, mantendo o processo de redução dos juros e levando a taxa básica de juros a 11,25% ao ano. O documento traz maiores detalhes sobre os temas discutidos pelo comitê e a visão que o Copom tem sobre a evolução da economia, além dos próximos passos da política monetária.
Exterior
No que diz respeito ao cenário externo, observa-se o início do debate sobre quando as economias centrais (Estados Unidos e Europa) começarão os processos de flexibilização de suas políticas monetárias. Por enquanto, ainda não há sinais de que esse processo se inicie tão cedo, mas o Copom enfatiza que não existe uma relação direta entre cortes de juros nessas economias e uma eventual aceleração dos cortes de juros no Brasil.
FRASE
"O Comitê percebe a necessidade de se manter uma política monetária ainda contracionista pelo horizonte relevante."
Trecho da Ata da 260ª reunião do Copom
Exterior 2
Ainda no cenário externo, tem se observado uma reversão dos choques de oferta, com redução da inflação ao produtor na China e nos Estados Unidos. Soma-se a isso a evolução positiva dos preços das commodities, de modo que é possível projetar um bom comportamento para a inflação sobre bens e produtos. Por outro lado, as tensões geopolíticas no Oriente Médio têm impactado os preços de fretes, trazendo incerteza ao cenário.
Brasil
No Brasil, a atividade econômica segue em desaceleração, como já era esperado. No entanto, essa desaceleração pode ser contida pela elevação da renda real das famílias, que ocorre por conta da queda da inflação, da elevação do salário-mínimo, dos benefícios sociais e de um mercado de trabalho que continua resiliente. Nesse cenário, o consumo das famílias tende a se manter aquecido, sustentando a atividade econômica.
Brasil 2
O aumento da renda familiar em termos reais que se verificou nos últimos meses, e que deve manter o consumo das famílias aquecido, tem o potencial de pressionar os preços e a inflação, especialmente a de serviços. A formação bruta de capital fixo segue em queda, mostrando que a renda tem sido destinada ao consumo imediato e não para investimentos. O Copom garante que acompanhará de perto a dinâmica entre rendimentos e preços.
Crédito
O mercado de crédito já apresenta sinais de transmissão do afrouxamento monetário, com aumento na concessão de crédito e redução das taxas de juros correntes relativas aos novos contratos. A expansão em modalidades de crédito direcionado também tem sido notada, sendo mais um fator para manter o potencial de aquecimento do consumo.
Expectativas
Segundo o Copom, as expectativas de inflação seguem parcialmente desancoradas. Apesar das projeções de inflação do mercado estarem próximas da meta (em 3,8% para 2024 e em 3,5% para 2025), essa desancoragem pode ser observada na curva de juros futuros. Os contratos de DI para 10 anos estão sendo negociados com taxas de 10,74% ao ano, precificada para uma expectativa de inflação em torno de 5% ao ano.
Taxa Neutra
O menor ânimo no esforço para seguir a disciplina fiscal e as reformas estruturais, aliada ao aumento do crédito direcionado e incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, ou seja, o nível da taxa de juros que não seja nem contracionista e nem expansionista. Isso diminui os efeitos da política monetária. A taxa de juros neutra estaria atualmente entre 4,5% e 5,0% ao ano.
Decisão
A redução da taxa Selic em 0,5 ponto percentual foi decidida por unanimidade pelos membros do Copom. Na ata da reunião, seguem projetadas novas reduções de mesma magnitude nas próximas reuniões, mas sem especificar a duração do processo de redução dos juros. Ao menos nas próximas duas reuniões podemos contar com novos cortes de 0,5 ponto percentual, fazendo com que a Selic seja reduzida para 10,75% no dia 20 de março e para 10,25% no dia 08 de maio.