O valor da taxa básica de juros alcançou 12,75% ao ano, o maior nível da taxa Selic desde fevereiro de 2017 (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Foi divulgada a ata da 246ª reunião do Copom, realizada na semana passada, trazendo mais informações sobre os fatores que pesaram na decisão tomada pelo comitê. O Copom elevou em 1 ponto percentual o valor da taxa básica de juros. Com a decisão da semana passada, o valor da taxa básica de juros alcançou 12,75% ao ano, o maior nível da taxa Selic desde fevereiro de 2017.
Cenário Externo
O cenário externo se deteriorou fortemente nos últimos meses. O prolongamento da guerra na Ucrânia e os novos focos de Covid na China, com a rígida resposta do governo chinês em promover fechamentos extensivos de zonas econômicas importantes, são fatores que pressionam os preços das commodities e de alguns componentes industrializados cuja oferta está reduzida.
FRASE
"Nós faremos o que for necessário.”
Thomas Barkin, presidente regional do FED
Impactos Externos
Além disso, a elevada inflação observada nos Estados Unidos e na União Europeia exigirá a adoção de políticas monetárias contracionistas nessas economias, com elevação da taxa de juros. Os Estados Unidos já deram início ao processo de aperto monetário, mas ainda estão com juros reais negativos (taxas de juros menores do que a inflação). Conforme o aperto monetário seja intensificado, as condições financeiras dos países emergentes se tornarão mais desafiadoras.
Choques Cruzados
Se por um lado existem choques de oferta, especialmente por conta dos preços das commodities energéticas e agrícolas, muitas delas afetadas diretamente pelo conflito na Ucrânia, do outro lado também persiste uma demanda aquecida nos Estados Unidos, onde os juros reais estão negativos e o mercado de trabalho continua aquecido.
Cenário Interno
Os impactos da política monetária das economias centrais no Brasil ocorrerão por meio da taxa de câmbio e, indiretamente, devido a um ritmo mais moderado da economia mundial. Por enquanto, a atividade econômica brasileira ainda mostra leve recuperação, tanto no comércio como na indústria, e o mercado de trabalho se expande lentamente.
Inflação
A inflação continua elevada e persistente. Os recentes choques devido ao cenário externo provocaram fortes aumentos especialmente nos preços de alimentos e combustíveis. O impacto da alta do preço da gasolina na inflação tem se mostrado maior e mais rápido do que o previsto pelo Copom. Uma rápida transmissão de preços é um sinal que as expectativas de inflação estão muito elevadas.
Situação Fiscal
Outro fator de risco para a política monetária é a situação fiscal, cujas incertezas aumentam as expectativas de inflação. Desse modo, a condução da política monetária fica condicionada ao desempenho fiscal do governo. Elevações adicionais das taxas de juros podem ser necessárias se o governo desistir de implementar reformas estruturais e de perseguir as metas de superávit fiscal.
Situação Fiscal 2
Gastos excessivos do governo aquecem a demanda, neutralizando os efeitos da política monetária contracionista e alimentando a inflação. Somando a isso, sem superávit fiscal, o governo fica sem recursos para investir. Todos os investimentos têm que ser realizados pelo setor privado. Desse modo, a taxa de juros tende a subir, para aumentar os níveis de poupança privada que são revertidos em investimentos.
Forças Opostas
Nos cenários para a inflação, a persistência da deterioração do cenário econômico mundial e as incertezas sobre o desempenho fiscal do governo jogam no sentido de manter as pressões inflacionárias. Podem atuar no sentido contrário possíveis reversões nos preços em Reais das commodities e uma desaceleração da economia mais forte do que o esperado.
Trajetória
O Copom sinaliza que o ciclo de aperto monetário continuará avançando em território ainda mais contracionista, embora em ritmo mais lento. A próxima reunião do Comitê se realiza nos dias 14 e 15 de junho e nessa ocasião os juros devem ser novamente elevados, provavelmente fazendo com que a Selic atinja ao menos 13,25% ao ano.