XEQUE-MATE DA ECONOMIA

Argentina

Estéfano Barioni
22/11/2023 às 17:30.
Atualizado em 22/11/2023 às 17:30
Com 55% dos votos, ele derrotou Sérgio Massa que teve 44% (Reprodução/YouTube)

Com 55% dos votos, ele derrotou Sérgio Massa que teve 44% (Reprodução/YouTube)

As pesquisas acertaram e Javier Milei é o novo presidente-eleito da Argentina, após ter conseguido a virada sobre Sergio Massa, o candidato governista que havia vencido o primeiro turno das eleições. A arrancada para a vitória aconteceu nas últimas duas semanas, depois de Milei ter recebido o apoio dos demais candidatos de oposição, especialmente de Patricia Bullrich, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno. No final, Milei teve 56% dos votos válidos frente aos 44% de Massa.

Anarcocapitalista

Javier Milei tem 53 anos e é formado em economia. Ganhou notoriedade na Argentina por suas aparições na internet e em programas de entrevista, defendendo uma pauta extremamente liberal para a economia. Milei se auto define como um "anarcocapitalista" e propõe uma agenda ultraliberal, buscando uma redução profunda do tamanho e da influência do governo. Durante a campanha, utilizou uma motosserra para simbolizar os cortes que irá promover no estado.

FRASE

"Hoje começa a reconstrução da Argentina"

Javier Milei, 
presidente-eleito da Argentina

Dolarização
Milei prometeu que irá fechar o Banco Central da Argentina e acabar com o uso do Peso, adotando simplesmente o Dólar dos Estados Unidos como moeda nas transações internas do país. O argumento para isso é evitar que governos futuros atuem na emissão de moeda para compensar o excesso de gastos públicos, uma prática que tem contribuído de forma intensa para a perda de valor do Peso e a inflação. Por outro lado, a Argentina deixará de ter mecanismos de política monetária. 

Mercosul e Brics
Outras intenções do futuro presidente argentino são abandonar o grupo dos BRICS, que após grande influência do governo brasileiro incluiu a Argentina em agosto desse ano, e até suspender relações comerciais com a China. Javier Milei também já deu declarações contrárias ao Mercosul, alegando que o bloco econômico é uma associação que promove distorções econômicas e comerciais, prejudicando seus países membros. 

Polêmicas
Javier Milei também defende várias posições polêmicas como a liberação total do comércio de armas no país, a realização de cortes profundos nos gastos públicos de saúde e educação, promovendo o fim da educação obrigatória e gratuita no país, e até defende a instituição de mecanismos de mercado (compra e venda) para os transplantes de órgãos humanos. 

Transição
Obviamente, muitas coisas ficarão apenas no discurso. É impraticável romper relações comerciais com a China, por exemplo, sem arrasar o comércio exterior do país. A própria dolarização da economia depende de se conseguir atrair um estoque de Dólares suficiente para garantir a liquidez nas transações domésticas. Calcula-se que seriam necessários cerca de US$ 35 bilhões para isso. Hoje, as reservas da Argentina somam pouco mais da metade desse valor. 

Transição 2
Além disso, Javier Milei não governará sozinho. Seu partido conseguiu apenas 26% dos assentos no congresso do país ficando longe de formar uma maioria. Mesmo com a realização de amplas alianças com os demais partidos de oposição, a governabilidade do país dependerá da realização de muitas negociações e de concessões no campo político. 

Derrota
Mesmo com as posições extremamente polêmicas de Milei, a derrota do candidato governista é muito compreensível. Sergio Massa é o atual Ministro da Economia da Argentina, justamente a área mais caótica do país. A inflação atingiu 142% ao ano, o Peso se desvalorizou mais de 2.400% em cinco anos e mais de 40% da população vive em situação de pobreza. Os eleitores decidiram romper com um governo que não apresentava bons resultados.

Ruptura
Essas eleições marcam uma ruptura com os partidos peronistas e kirchneristas que rondam o governo argentino desde 1945. Mais do que os méritos de Javier Milei, que assume seu novo mandato no dia 10 de dezembro, a rejeição ao governo atual pesou muito na decisão dos eleitores, que decidiram apostar no desconhecido. Pode dar tudo errado, é claro, mas é uma aposta no novo.

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