XEQUE-MATE DA ECONOMIA

Argentina

Estéfano Barioni
19/11/2023 às 15:15.
Atualizado em 19/11/2023 às 15:15
Argentina (Shutterstock)

Argentina (Shutterstock)

Neste domingo, nossos vizinhos argentinos vão às urnas para escolher o novo presidente. Os candidatos que foram ao segundo turno são o governista e atual Ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, e o novato no mundo político e personalidade da internet, Javier Milei. Nas últimas pesquisas, Javier Milei aparece com uma pequena vantagem nas intenções de voto (48% a 44%), mas considerando indecisos e a margem de erro, o pleito está praticamente empatado.

Escolha

Essa eleição não será apenas a mais disputada dos últimos anos na Argentina, mas também uma das mais importantes. Quando comparecem às urnas hoje, os argentinos não apenas estarão escolhendo entre dois candidatos diferentes, mas entre duas ideias completamente opostas para o país, que desde os últimos anos atravessa uma grande crise econômica e monetária.

FRASE

"Nada é construído sobre pedra;tudo é construído sobre areia, mas devemos construir como se a areia fosse pedra".

Dívida

Em 2018, no governo Macri, a Argentina recorreu a um empréstimo emergencial do FMI, no valor de US$ 57 bilhões, para auxiliar nas finanças ajudar a pagar outro empréstimo em aberto. Mas logo no ano seguinte, o país não conseguiu pagar as parcelas da dívida vencendo, e a partir daí passou a enfrentar uma crise de confiança nos mercados internacionais e uma enorme dificuldade de atrair dólares.

Dívida 2

As reservas de moeda estrangeira do país estão em níveis baixíssimos e são suficientes para cobrir apenas 60% dos compromissos de dívida do país no curto prazo. Em agosto deste ano, a Argentina conseguiu um empréstimo do Catar, no valor de US$ 775 milhões com juros de 4% ao ano, para realizar o pagamento de uma parcela da dívida com o FMI.

Câmbio

Com a falta de atração de dólares no país após o calote da dívida em 2019, a moeda se tornou escassa e a taxa de câmbio disparou. Há cinco anos, 1 Dólar valia o equivalente a 37 Pesos Argentinos. Hoje, a cotação atual está fixada em 353,47 Pesos: uma alta de 885% em cinco anos, considerando apenas o câmbio oficial. Para de fato comprar dólares no país, paga-se muito mais. No chamado câmbio azul, 1 Dólar está cotado a 935 Pesos Argentinos.

Câmbio 2

Ou seja, a desvalorização real da moeda para a população foi de mais de 2.400% em apenas cinco anos. Para se ter uma ideia do quanto isso significa, considerando a taxa de câmbio atual no Brasil (que está por volta de R$ 4,87/US$ 1,00) e aplicando a mesma desvalorização que o Peso Argentino sofreu, teríamos daqui a cinco anos uma taxa de câmbio de pouco mais de R$ 123,00/US$ 1,00.

Inflação

Acompanhando a imensa desvalorização da moeda, a inflação na Argentina disparou, como não podia ser diferente. Com o Peso perdendo valor a cada dia, os preços dos produtos e serviços explodiram e no mês passado a inflação no país alcançou 142,7% ao ano (no pior momento pós pandemia, a inflação no Brasil alcançou pouco mais de 12% ao ano). No meio do caos, a taxa de juros na Argentina está em 133% ao ano e a economia deve encolher 2,5% neste ano.

Propostas

As propostas de Milei são radicais. Fechar o Banco Central da Argentina, acabar com o Peso e dolarizar a economia do país. Segundo Milei, a crise da Argentina é fruto das intervenções monetárias do governo, que imprime moeda para manter uma política populista, e a dolarização forçaria a estabilização da economia. Segundo Massa, com a dolarização a Argentina perderia sua autonomia monetária e defende que as medidas atuais estão começando a fazer efeito.

Caminhos

Outros países já deixaram de ter suas moedas e adotaram oficialmente o Dólar americano, mas nenhum deles é tão grande quanto a Argentina. Restam dúvidas sobre a viabilidade do plano, pois não se sabe se a Argentina terá condições de atrair dólares suficientes para abastecer sua economia. As apostas são altas e hoje os argentinos decidirão se vão percorrer o caminho conhecido, que não tem sido muito bom, ou vão pelo caminho desconhecido, que ninguém sabe como será.

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