Argentina (Shutterstock)
A Argentina foi a campeã da Copa do Mundo de maneira merecida. O time apresentou um bom futebol, foi aplicado e aguerrido dentro de campo, o técnico soube fazer as alterações necessárias nos momentos certos e, ainda por cima, puderam contar com o melhor jogador do mundo, que desequilibrou. Por outro lado, na economia o país parece ser o campeão dos problemas, atravessando crises intermináveis que se sucedem, uma atrás da outra.
Crise
A inflação no país chegou a 90% ao ano, segundo o índice oficial. Com uma inflação elevada dessas, um produto dobra de preço a cada 13 meses. Além disso, o peso argentino tem se desvalorizado enormemente frente ao dólar. Só nos últimos cinco anos, o dólar se valorizou 847% frente ao peso argentino. O número é esse mesmo, não está faltando nenhuma vírgula. Hoje o dólar vale, em pesos argentinos, quase quatorze vezes mais do que valia cinco anos atrás.
FRASE
" Os credores sabiam que estavam tomando risco. Não existem devedores irresponsáveis, mas sim credores irresponsáveis."
Martín Guzman, ex-ministro da economia da Argentina
Recursos
No entanto, a Argentina é um país rico em diversos recursos que poderiam (e deveriam) contribuir para o seu sucesso econômico. O país tem grandes dimensões territoriais, é um grande produtor de carnes e de grãos, tem grandes reservas de gás natural e de riquezas minerais importantes, como o lítio, metal fundamental para a fabricação das baterias modernas. Todas essas commodities tiveram grandes altas de preços na abertura pós-pandemia.
Recursos 2
Com a alta das commodities que o país produz, seria natural que a Argentina acumulasse muitas divisas ao longo do ano e experimentasse um grande crescimento. Além disso, em condições normais, o grande fluxo de entrada de capitais internacionais provocado pelas exportações deveria fazer o peso argentino se valorizar frente ao dólar. Mas aconteceu exatamente o contrário.
Dívida Pública
O grande problema da Argentina tem sido o endividamento público. Desde 2016, o tamanho da dívida começou a aumentar exponencialmente e, no início de 2021, a dívida pública chegava a 101,8% do PIB. Para piorar, uma parte significativa do endividamento do país é de curto prazo e está em moeda estrangeira (dólares).
Calote
Com isso, o país passou a enfrentar dificuldades para cumprir suas obrigações no vencimento e por mais de uma vez falhou em pagar o serviço da dívida. No total, foram nove vezes que a Argentina se tornou insolvente e não conseguiu fazer os pagamentos devidos. Somente neste século, já foram três vezes em que o país entrou em default (o equivalente à falência para um país, por incapacidade de pagar suas dívidas): em 2001, 2014 e 2020.
Dólares
Com as recorrentes insolvências do país, os credores passaram a ter uma percepção de risco enorme. A moeda local tornou-se extremamente instável, sendo frequentemente desvalorizada. A Argentina não consegue lançar novas dívidas em pesos, pois os credores não possuem confiança no valor da moeda. O país precisa contrair dívidas em dólares, tendo que oferecer grandes prêmios para compensar os credores pelo risco da dívida.
Populismo
As origens da delicada situação econômica argentina estão no seu comando político. A partir do governo de Perón, a Argentina inaugurou o populismo moderno, baseado no aumento dos gastos públicos, reforço do assistencialismo como instrumento de governo (e não para, de fato, retirar as pessoas da pobreza), e maior interferência do Estado na economia, escolhendo quais setores da economia privilegiar, o que produz distorções econômicas graves e alimenta ineficiências.
Riqueza
No começo do século passado, a Argentina era a sétima nação mais rica do mundo, com uma economia forte baseada em seus recursos naturais. Hoje, esses mesmos recursos naturais continuam valiosos, mas devido a uma sucessão de erros na condução do país nas últimas décadas, a Argentina não está nem na lista dos 25 mais ricos. Não existe riqueza que seja à prova de erros e de um comando equivocado.