EDEMILSON EUCLIDES LOVATTO

A vida é missão

29/09/2020 às 01:09.
Atualizado em 27/03/2022 às 23:58
Pe. Edemilson Euclides Lovatto é coordenador de Pastoral da Arquidiocese de Campinasr
 (Divulgação)

Pe. Edemilson Euclides Lovatto é coordenador de Pastoral da Arquidiocese de Campinasr (Divulgação)

Neste tempo de isolamento social, estamos tendo uma oportunidade maior de experiências que antes não tínhamos: repensar o valor e o sentido da vida, estar mais próximos com a família e encontrar caminhos de solidariedade e caridade. Nesta busca, descobrimos o valor da Palavra de Deus como luz para nossos caminhos. Percebemos maior sensibilidade, compaixão e partilha para com os pobres. E, ao mesmo tempo, o desafio de continuar a sermos, como nos tem pedido insistentemente o Papa Francisco, uma Igreja em saída. “A vida é missão” é o tema da Campanha Missionária 2020 que a Igreja Católica realizará durante o mês de outubro em todo o Brasil. Mesmo vivendo um tempo diferente, a Campanha Missionária em 2020 quer ser um sinal de esperança para tantas vidas doadas de forma solidária. O Papa Francisco lembra que “a missão no coração do povo não é uma parte da minha vida, ou ornamento a ser posto de lado. É algo que não posso arrancar do meu coração” (Alegria do Evangelho, 27). Igualmente, poderíamos dizer que a “Missão é vida”. Promover, defender e valorizar a vida há de ser sempre um imperativo na vida daquele que se deixou tocar pelo amor de Deus. Neste tempo de pandemia que se abateu sobre a humanidade e que já ceifou tantas vidas, desmascarou a nossa fragilidade, mostrou as nossas falsas certezas e despojou a dignidade de muitas pessoas. A desesperança tem rondado o nosso coração. Pessoas sentem-se desoladas e entristecidas. Experimentamos o isolamento, porém sabemos que não estamos abandonados. A fé nos dá a certeza de que não há força maior do que o amor de Deus por nós. É nesse sentido que o lema da Campanha Missionária, inspirado no profeta Isaías: “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8) torna-se um alento ao depositar a esperança naquele que é o Senhor da vida. O acontecimento do novo Coronavírus veio à tona essa realidade, ainda mais agravada: 42 milhões de invisíveis, sem contar as crianças; em números reais, chega-se quase à metade da população do Brasil. Invisíveis? Ou uma sociedade que não os quer ver? Um país que continua excluindo-os, marginalizando-os, tornando-os objeto de assistencialismo sistemático, que os mantém na miséria e pobreza, na dependência e alienação, e que impede a concretização da justiça social e econômica, o florescimento da beleza e grandeza da dignidade humana. 42 milhões de invisíveis, para quem quer colocar máscaras sobre os olhos e sobre a consciência social, econômica e política... Ter consciência de que somos enviados por Jesus Cristo é saber que nos foi confiada não só uma simples tarefa. Conferiu-nos também uma identidade que nos projeta para além de nós mesmos: discípulos missionários de Jesus Cristo, para o bem do mundo, por meio do testemunho e do serviço, sobretudo na caridade. Esta é um amor especial, que quer o bem do próximo, gratuitamente, até às últimas consequências. É a missão que se encarna na caridade cristã e que se amplia em diversas dimensões da vida. Neste contexto de pandemia a caridade social, que abrange a misericórdia para com os pobres, o amor fraterno para com todas as pessoas que neste mundo não são amadas, a justiça social e econômica, a transformação da sociedade conforme os critérios e valores do Evangelho. Somente contemplando o mundo com os olhos de Deus, é possível perceber e acolher o grito que emerge das várias faces da pobreza e da agonia da criação. Anunciar Jesus Cristo pressupõe a caridade como o amor que se dedica com todo coração, na mais pura gratuidade. A caridade nos torna mais humanos. Na caridade está a beleza e a grandeza da vida! O que ninguém esperava é que este tempo de pandemia iria se transformar num gigantesco mundo e apelo profundo de Caridade! Ao dar concretude à missão na promoção e defesa da vida, é, como diz o Papa Francisco na mensagem para o Dia Mundial das Missões, “reflexo de que a missão não é um programa, um intuito concretizável por um esforço de vontade. É Cristo que faz sair a Igreja de si mesma. Deus é sempre o primeiro a amar-nos e, com este amor, vem ao nosso encontro e chama-nos. A nossa vocação pessoal provém do fato de sermos filhos e filhas de Deus na Igreja, sua família, irmãos e irmãs naquela caridade que Jesus nos testemunhou”. A pandemia continua assolando a todos, tem levado a uma crise sem precedentes. Mas sabemos que as crises nos forçam a sermos mais criativos e a fazermos as mesmas coisas por meio de métodos que jamais imaginaríamos. E enquanto houver vida, há missão, posto que “a vida é missão”, e a “missão é vida”! Pe. Edemilson Euclides Lovatto é coordenador de Pastoral da Arquidiocese de Campinas

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