EDITORIAL / DO CORREIO POPULAR

A subversão da logística do transporte

Do Correio Popular
05/08/2022 às 13:12.
Atualizado em 05/08/2022 às 13:12
Trem trafega por trecho de ferrovia no perímetro urbano de Campinas: atraso em obras de manutenção da malha prejudica segurança dos moradores (Gustavo Tilio)

Trem trafega por trecho de ferrovia no perímetro urbano de Campinas: atraso em obras de manutenção da malha prejudica segurança dos moradores (Gustavo Tilio)

A ocorrência de acidentes em trechos da malha ferroviária paulista levou o Ministério Público de São Paulo a investigar o atraso nas obras de ampliação da sua capacidade e reforço na segurança do sistema. O prazo para a entrega das melhorias expirou há dois meses e, até o momento, seguem inacabadas, a exemplo dos ramais que atravessam a região de Campinas. As intervenções são de responsabilidade da concessionária que opera os trens. A justificativa dada pela empresa pelo descumprimento do prazo recai sobre a pandemia, porém, os promotores estão empenhados em identificar outras causas que possam estar contribuindo para a letargia que atrapalha a execução desse cronograma de execução de benfeitorias previstas no contrato de concessão.

A opção pelo transporte ferroviário parece óbvia para um país de grandes dimensões territoriais como o Brasil. No entanto, esse modal foi preterido ao longo de sucessivos governos, culminando com a quase total dependência do transporte rodoviário. Por volta de 1960, a malha ferroviária chegou ao seu auge. Naquela época, 40 mil quilômetros de trilhos atravessavam o país. Não obstante, por falta de manutenção e investimentos, grande parte do patrimônio ferroviário foi desmantelada.

Preocupado com o atraso nas obras de responsabilidade da concessionária, o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas (RMC) cobra providências junto à Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, dado que a restauração da rede é considerada essencial ao desenvolvimento econômico da região. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a malha ferroviária encolheu 10 mil quilômetros nos últimos 40 anos. A extensão exata hoje é de 29.320 quilômetros, no entanto, apenas um terço disso encontra-se em condições de uso.

O país subverteu a lógica aplicada aos padrões internacionais de transporte de mercadorias. Para um país de grandes dimensões territoriais, a regra de eficiência logística diz que, para percursos longos - acima de 500 quilômetros - a opção mais econômica é o trem. Apenas no Estado de São Paulo, são feitas mensalmente mais de 30 mil viagens de longa distância, ou seja, deslocamentos tipicamente ferroviários. O fortalecimento da rede férrea será um grande desafio para as próximas administrações públicas, dado que há um consenso de que a ferrovia é um elo essencial na cadeia que sustenta o crescimento da economia brasileira.

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