EDITORIAL

A educação como um bem inalienável

Do Correio Popular
09/08/2022 às 10:19.
Atualizado em 09/08/2022 às 10:19
Maria Pereira de Souza, de 75 anos: ‘Decidi que estudaria para aprender a ler o ônibus. É muito difícil precisar pedir ajuda o tempo inteiro. Hoje, já estou conseguindo escrever meu nome’ (Dominique Torquato)

Maria Pereira de Souza, de 75 anos: ‘Decidi que estudaria para aprender a ler o ônibus. É muito difícil precisar pedir ajuda o tempo inteiro. Hoje, já estou conseguindo escrever meu nome’ (Dominique Torquato)

Em sua única passagem pelo Brasil, em 2016, o ativista indiano Kailash Satyarthi - ganhador do Nobel da Paz de 2014 pela sua luta contra o trabalho infantil e escravo - contou uma história dramática, que chocou a todos os presentes a uma aula pública em São Paulo. Era o triste relato do calvário de uma menina de 14 anos, que morreu de tuberculose após ter sido resgatada de uma espécie de senzala contemporânea por uma das missões secretas de resgate de Kailash. O fato de o seu pai não saber ler e escrever selou o destino cruel e trágico da própria filha, dado que, por ser analfabeto, teve que chancelar com suas digitais o contrato laboral, sem se dar conta de que aquele documento estabelecia uma condição de ofício análogo à escravidão, impondo um regime contratual perpétuo, impedindo a família de deixar o cativeiro para sempre. Ao terminar de contar essa história terrível, o indiano fez a seguinte reflexão: "A educação para o pai (da jovem) foi questão de vida ou morte". Em outras palavras, escravidão e analfabetismo são faces da mesma moeda.

No Brasil, quatro séculos de regime escravocrata deixaram uma profunda marca no tecido social, que repercute até agora. O analfabetismo é uma das cicatrizes mais profundas da chaga da escravidão. Contra ela, lutamos até hoje. Além de ser um pilar da democracia, a educação tem uma importância imensurável à sociedade. Ela é a porta de um universo de possibilidades, que torna factível a mudança tanto da realidade do sujeito quanto da sociedade e negar o acesso a esse bem intangível é uma vilania ao cidadão. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) não é apenas um direito de quem não concluiu o ensino médio. Mais do que alfabetizar, a EJA significa dar às pessoas a oportunidade de desenvolver o seu potencial.

Sendo assim, a política de expansão da rede educacional da Fumec/Ceprocamp, com a aquisição de mais duas unidades móveis de ensino, cumpre um dos preceitos fundamentais da Constituição Federal, previsto no seu artigo 205, que afirma ser a educação um direito de todos e dever do Estado e da família. As carretas, equipadas com salas de aula, levarão o EJA até as comunidades mais carentes da cidade e ofertarão cursos de qualificação profissional para ajudar as pessoas a progredirem na carreira, aumentando as chances de oportunidades de emprego e geração de renda, além de promover a participação delas em atividades sociais, econômicas, políticas e culturais. Povo educado e alfabetizado jamais será escravizado.

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