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A Câmara e o antifascismo

Jary Mércio
23/04/2023 às 10:51.
Atualizado em 23/04/2023 às 10:51
Câmara de Campinas (Divulgação/ Câmara de Campinas)

Câmara de Campinas (Divulgação/ Câmara de Campinas)

A Câmara de Campinas rejeitou, na quarta-feira, pelo voto da maioria de seus vereadores, o relatório final da CPI Antifascista que investigou a possibilidade dos episódios de ódio e violência ocorridos em estabelecimentos de ensino e contra estudantes do município tenham sido insuflados por grupos extremistas que atuam nas redes sociais e em plataformas subterrâneas da internet, a chamada deep web. A investigação da CPI indicou a existência de 16 grupos regidos por ideologias nazistas e fascistas em Campinas, fomentados pelo discurso de ódio, mas a maioria dos vereadores optou por negar as evidências apresentadas nos trabalhos da comissão e apontadas no relatório lido na sessão extraordinária da tarde da quarta-feira. 

Crescimento sob Bolsonaro 

Para a vereadora Mariana Conti (PSOL), presidente da CPI, a razão pela qual a maioria dos vereadores votou contra o relatório da CPI foi porque ele aponta a responsabilidade do governo Bolsonaro no crescimento de grupos de extrema direita neofascistas, “estes mesmos que estão incentivando ou inspirando ataques às escolas”. Mariana destaca que “o número desses grupos cresceu no governo Bolsonaro em 270%, segundo Adriana Dias.”

FRASE

“Não era conveniente e seguro naquele momento, sem planejamento e em razão dos ânimos exaltados”

Gonçalves Dias, general da reserva e ex-ministro do GSI, em depoimento à PF na quinta-feira, ao justificar imagens do vídeo com vândalos no Planalto

Autoridade no assunto

Falecida no último dia 29 de janeiro, Adriana Dias, citada pela presidente da CPI Antifascista, era doutora em antropologia, e, como pesquisadora da Unicamp, foi a maior autoridade no país no uso das redes informacionais subterrâneas por grupos extremistas de caracteristicas neonazistas no país, os quais teriam se aproveitado e ao mesmo tempo alimentado a onda bolsonarista para se expandir. “E isso aconteceu pelo armamentismo, pela política de ódio contra mulheres, negros, indígenas e LGBTQIA+ e porque em várias ocasiões o governo, seus membros e o próprio Bolsonaro se utilizaram de símbolos neofascistas, o que para esses grupelhos é um salvo conduto”, analisa Mariana.

Encarar o monstro

“A maioria dos vereadores de Campinas não quer assumir isso, porque muitos deles apoiaram o ex-presidente genocida. Mas para atacar o monstro é preciso ver como ele é”, dispara a vereadora.

Marcas do ódio

A abertura da comissão parlamentar de inquérito se deu após três episódios, ocorridos entre maio e abril de 2022, sinalizarem ameaça nazifascista aos cidadãos campineiros: pichações de símbolos nazistas no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp e no Colégio Etecap; um ataque armado em um bar em Barão Geraldo, quando homens — que chegaram de motocicletas — exibindo suásticas ameaçaram imigrantes africanos e alunos residentes na Moradia Estudantil; além de uma ameaça de massacre também no Etecap.

Adolescentes brancos

A CPI identificou que as ideologias nazista e fascista exercem forte impressão entre os jovens, especialmente os brancos de classe média, apontados como autores da maioria dos atos violentos. O trabalho da comissão intencionava orientar as instituições de ensino sobre como agir na prevenção do aliciamento de adolescentes.

Em Paulínia

E a segurança nas escolas voltou a entrar na pauta da Câmara de Paulínia na terça-feira desta semana, na 12ª Sessão Ordinária, depois das notícias da apreensão de um adolescente por ameaça a uma escola da cidade. O vice-presidente do Conselho Comunitário de Segurança, Mário Gabriel de Freitas Santos, usou a tribuna livre para falar sobre as ameaças e apresentar um plano que integre órgãos para o bem-estar da comunidade escolar.

Criança Feliz

Também nesta semana, o vereador Alex Eduardo (Solidariedade) pediu a implantação em Paulínia do programa Criança Feliz. A iniciativa do governo federal promove visitas domiciliares às famílias participantes do Cadastro Único com o objetivo de orientar os pais a fortalecerem os vínculos familiares e comunitários e estimularem o desenvolvimento infantil. 

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