editorial

A alquimia tomista que une fé e razão

Do Correio Popular
11/06/2022 às 19:45.
Atualizado em 12/06/2022 às 10:12
O pensamento de São Tomás de Aquino, o grande nome da escolástica, prevaleceu sobre a atividade, a razão e a vontade humana (Reprodução)

O pensamento de São Tomás de Aquino, o grande nome da escolástica, prevaleceu sobre a atividade, a razão e a vontade humana (Reprodução)

Após oito séculos marcados pela obediência, intuição e revelação divina, a Idade Média cristã chegou a um ponto de tensão ideológica que fez com que esses princípios fossem quase totalmente revertidos. A figura chave da transformação foi São Tomás de Aquino, o grande nome da escolástica, cujo pensamento prevaleceu sobre a atividade, a razão e a vontade humana. Numa época em que a Igreja ainda buscava em Santo Agostinho e seus seguidores a maior parte de seu apoio doutrinário, parece improvável que Tomás de Aquino tenha desenvolvido um amplo sistema filosófico que conciliasse a fé cristã com o pensamento do grego Aristóteles. Não se trata apenas de adotar princípios contrários aos agostinianos, inspirados no idealismo de Platão, ao invés do realismo aristotélico, mas trazer para dentro da Igreja um pensador que não vislumbra um Deus criador ou mesmo a vida após a morte.
Aristóteles colocou a razão e a investigação intelectual em primeiro lugar em seus escritos. A realidade material é considerada uma importante fonte de conhecimento científico. Tomás de Aquino realizou uma obra imortal, ainda que inacabada, é a "Suma Teológica", na qual revisa a teologia cristã a partir de uma nova perspectiva, seguindo o princípio aristotélico de que há razão para ordenar e categorizar o mundo para compreendê-lo. É assim que funciona o pensamento tomista, e é por meio desse adjetivo que a filosofia pioneira de Aquino entrou para a história. A relação entre razão e crença é central para os interesses dos filósofos. Para ele, embora subordinada à fé, ela opera por si mesma. Em outras palavras, o conhecimento não depende da crença ou da existência de verdades divinas dentro de um indivíduo, mas é uma ferramenta para se aproximar de Deus. Tomás de Aquino foi uma figura emblemática do seu tempo porque representou de forma singular a tensão entre as tradições cristãs medievais e a cultura emergente na nova sociedade.

Segundo os filósofos, existem dois tipos de conhecimento: o conhecimento sensível captado pelos sentidos e o intelectual alcançado pela razão. Para o primeiro tipo, só se pode conhecer a realidade com a qual está em contato direto. Através do segundo, pode-se abstrair, combinar, estabelecer relações e, finalmente, chegar à essência das coisas, ou seja, ao objeto da ciência. O processo abstrato da realidade concreta à essência universal das coisas é um exemplo da dualidade entre ação e habilidade, princípio fundamental de Aristóteles e da filosofia escolástica.
 

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