Turma da terceira idade contribui com a preservação da Mata do Quilombo, em Barão Geraldo
As pessoas com mais idade mostram, com frequência, o quanto ainda têm a percorrer e contribuir com a experiência acumulada ao longo dos anos. O curso Ninho do Saber, oferecido pelo Instituto Annie Danon, organização não governamental (ONG) e sem fins lucrativos que forma agentes disseminadores de informações sobre o meio ambiente, direcionou seu foco a quem vive a plenitude da vida e tem muito a dividir.
A farmacêutica-bioquímica e ex-professora da Faculdade de Ciências Biológicas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) Irandaia Ubirajara Garcia foi quem olhou com sensibilidade para essa turma que viveu diversas experiências, aprendeu e tem muito a passar ao próximo. Desde maio de 2011, já foram formados 13 guardiões da Mata do Quilombo e, em breve, o distrito de Barão Geraldo ganhará outros protetores com a formatura de uma nova turma.
“O curso, inicialmente, trabalhou com alunos da Escola Estadual Professor Francisco Álvares (conhecida como escola da Rhodia), da Vila Holândia, em 2007, mas vi que ninguém trabalhava esse assunto com pessoas mais velhas. Não é porque possuem mais idade que não podem ser o futuro. O futuro não é algo distante, mas sim o agora”, diz Irandaia.
A satisfação em colaborar com uma boa causa é facilmente percebida nos olhares dos participantes, que, em sua maioria, são aposentados e moradores do distrito. As aulas acontecem sempre às sextas-feiras, das 9h às 12h, na sede do instituto, que fica na Rua Fonte das Flores, na Vila Florida, próximo da Mata do Quilombo.
O curso, com duração de dois meses e meio, ensina aspectos gerais de ecologia e meio ambiente, além de promover atividade física e recreação voltadas para a faixa etária. Cada um escolhe um tema para pesquisa em campo e o desenvolvimento teórico. No final, todos mostram seus trabalhos por meio de painéis, como se fosse um minicongresso.
Para participar, não é necessário ter qualquer grau de instrução, mas é primordial que a pessoa goste de natureza. Não há custo de inscrição ou mensalidade, apenas a compra da camiseta, que custa R$ 25,00. “O interessado faz o curso e recebe o certificado de Guardião da Mata do Quilombo. Mas o que normalmente acontece é que ele continua a conviver com o grupo, realizando diversas ações mesmo após a formatura”, afirma a professora.
A paixão de Irandaia pela mata começou há mais de dez anos, quando mudou-se para Campinas, época em que o marido, Marcos Garcia, foi convidado para trabalhar no centro de pesquisa da Rhodia. A proximidade com a área, que fazia parte de seu quintal, a fez perceber que poderia unir seus conhecimentos técnicos à paixão pela natureza. Foi então que fundou o instituto Annie Danon e a Associação Ambientalista Mata do Quilombo (AAMaQ), essa última composta por um grupo de voluntários que tem como objetivo a proteção da mata e o desenvolvimento da educação ambiental voltada para o trecho.
“O meu desejo é formar uma comunidade educativa, criar um espírito de amor ao meio ambiente, desenvolver e divulgar um levantamento da fauna e flora da região”, diz a professora do curso.
Espécies
A Mata do Quilombo, localizada na Vila Florida, em Barão Geraldo, é avistada à direita da Estrada da Rhodia nas proximidades da Vila Holândia e acompanha a margem direita do Rio Anhumas. Sua importância para a cidade foi reconhecida com o tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) em 2010.
Considerado o segundo maior fragmento da região de Barão Geraldo e Campinas, possui 33,68 hectares, de acordo com o mapeamento de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Trata-se de um fragmento de vegetação remanescente de Cerrado e Mata Atlântica, já raro na região metropolitana.
Possui recantos de beleza natural nos trechos mais preservados e no inventário florístico foram identificadas 73 espécies arbóreas distribuídas em 35 famílias. Entre elas, tarumã, pindaíba, canela-batalha, jequitibá-branco, copaíba, ipê-roxo, ipê-amarelo, pau-de-tucano, açoita-cavalo, carvalho-brasileiro, cambará e angico.
Algumas nascentes foram encontradas, com contribuição para a produção de água para o Ribeirão Anhumas, que vai desaguar no Atibaia, importante manancial da região e formador da bacia do Rio Piracicaba.
Segundo a professora Irandaia Ubirajara Garcia, a ajuda para minimizar as ações nocivas do homem conta com o apoio da Prefeitura. “A Secretaria do Verde e do Desenvolvimento Sustentável de Campinas, com apoio da Sanasa (Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento) e da Secretaria de Infraestrutura, estuda restringir o acesso à Mata do Quilombo, deixando-o livre apenas a pedestres, ciclistas e animais”, afirma.
Saiba Mais
Irandaia Ubirajara Garcia é professora aposentada, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Cursou mestrado e doutorado na Unicamp. O primeiro curso lhe proporcionou fazer extensão na França e colaborar com o trabalho da imunologista Annie Prouvost-Danon, no Institut Pasteur. Graças à Unicamp, complementou a tese no francês Institut de Recherches sur le Cancer (IRSC), em Villejuif, referência em pesquisa sobre câncer em toda a Europa.
A mata protegida pela ONG tem origem na Fazenda do Quilombo, fragmentada e vendida a imigrantes portugueses, holandeses e alemães. Eles foram os primeiros a povoar o distrito de Barão Geraldo e vieram para se dedicar à terra.
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