DE CAMPINAS

ONG de hip hop precisa de ajuda para ir a festival

Não tem como bancar os R$ 20 mil necessários para a viagem de ônibus, alimentação, hospedagem, figurino e taxa de inscrição das 40 crianças e adolescentes

Rogério Verzignasse
07/06/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 11:27
Vivarte atende 250 alunos com aulas de dança, teatro e música; ao lado, Érika Ramos, que foi atendida pela ONG no passado ( Elcio Alves)

Vivarte atende 250 alunos com aulas de dança, teatro e música; ao lado, Érika Ramos, que foi atendida pela ONG no passado ( Elcio Alves)

A galerinha do hip hop — meninos e meninas de 5 a 15 anos de idade — se encontra para ensaios à noite, ali no velho barracão da Vila Marieta, cedido pela sociedade de bairro. É que os professores não têm outro horário. Trabalham de dia e ensinam a arte depois do expediente. Não cobram nada. É que pouca gente ali dentro tem condições de pagar pelas aulas. O trabalho bonito, de espírito do voluntariado, acontece há dez anos no Instituto Vivarte, organização não governamental que, sem renda para se manter, sobrevive de doações esporádicas. E o mais interessante é que o tablado improvisado revela gente muito talentosa, que coleciona troféus e medalhas em festivais. O Grupo JR Crew foi formado dentro do Vivarte há seis anos. E o sucesso tremendo correu o Brasil. A garotada foi convidada para participar, entre os dias 10 e 12 de julho, do badalado Festival Internacional do Hip Hop, em Curitiba (PR), para dividir o palco com feras do planeta inteiro. Só tem um probleminha. A ONG não tem como bancar os R$ 20 mil necessários para a viagem de ônibus, alimentação, hospedagem, figurino e taxa de inscrição das 40 crianças e adolescentes. A entidade, aliás, nem tem ideia de como vai arrumar dinheiro para acomodar 14 pais, que se ofereceram para cuidar da turminha nos três dias. Estima-se que a conta vai subir pelo menos mais uns R$ 5 mil. E a turma corre contra o tempo para arrumar dinheiro. Organiza bingos, eventos, jantares, rifas... Faz o que dá. A coordenadora do grupo, Cláudia Chinelatto Massoco, nem pensa em enfrentar a mesma situação do ano passado. Em 2014, o JR Crew também foi convidado para o mesmo festival. Mas a viagem ficou só no sonho. A entidade não conseguiu arrecadar dinheiro. “A gente gostaria que os campineiros nos ajudassem. A ONG atende crianças muito carentes, e talvez elas não tenham outra chance na vida, de participar de um festival internacional. Ia ser muito frustrante perder o convite de novo”, afirma.Cláudia conta que o convite dos organizadores serve de reconhecimento ao importantíssimo trabalho social prestado a jovens da periferia de Campinas. Cada um dos 13 professores, dos diferentes cursos de formação artística, no passado também foi assistido pela entidade. Para retribuir à ajuda que receberam, os profissionais fazem questão de ensinar, voluntariamente, o que aprenderam. “A solidariedade, através da década, garantiu nosso trabalho e nossa sobrevivência”, fala. “Até os consertos no prédio e a pintura das paredes do barracão atual são oferecidas por pedreiros e pintores voluntários.”HistóriaO Instituto Vivarte nasceu há dez anos. Hoje, o grupo atende a 250 crianças, adolescentes, adultos e idosos com aulas de balé, jazz, tecido acrobático, zumba, cartoon, mangá, teatro, violão e hip hop. E parte dos alunos é portadora de necessidades especiais. A coordenadora Cláudia Chinelatto Massoco conta que a entidade nasceu na época em que um parente seu, deficiente, deixou de ser atendido em uma escola especial que fechou as portas. A ONG cresceu, começou a funcionar em salões paroquiais da periferia e chegou a pagar aluguel de barracões. Há cinco anos, as atividades acontecem no antigo salão cedido pela Sociedade Amigo de Bairro da Vila Marieta. Para funcionar, o grupo conta com a ajuda de contribuições financeiras esporádicas de pais que podem ajudar. Todos os 28 funcionários trabalham voluntariamente.Continuidade A trajetória do Vivarte revela histórias pessoais emocionantes. Como a da coreógrafa Érika Ramos, uma jovem de 33 anos de idade, que voluntariamente dá aulas para a garotada do grupo de hip hop. Acontece que ela mesma, quando tinha 9 anos de idade e morava na favela do Jardim Samambaia, foi acolhida por uma entidade assistencial que precedeu a Vivarte. A própria coordenadora da ONG atual, Cláudia Chinelatto Massoco, lhe ensinou os primeiros passos da dança. Assim, há dez anos, quando o Vivarte nasceu, Érika se ofereceu para ensinar tudo o que aprendeu. E nunca mais deixou o grupo. Ah, hoje ela é casada, mãe de duas crianças, e mora em uma casa de alvenaria, no mesmo bairro de antes. “Com a arte, a gente ganha dignidade. E o trabalho voluntário é uma forma de agradecer o que fizeram por mim”, fala. 

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