A ideia é conscientizar pais, funcionários e visitantes sobre o uso de menores na limpeza de túmulos
Voluntários durante ação no Cemitério Flamboyant, em Campinas: faixas e panfletos alertam visitantes para não financiar trabalho infantil ( Gustavo Tilio/Especial para a AAN)
Vendedores de balas em semáforos, lavadores de carros, panfleteiros, cuidadores de jazigos. Todas essas atividades têm em comum a atuação de crianças, que muitas vezes trocam os estudos por algumas moedas diárias. Para ajudar na erradicação do trabalho infantil, a Comunidade Religiosa Santa Rita de Cássia, que administra os cemitérios Parque Flamboyant, Aléias e Acácias, em Campinas, em parceria com a ONG Movimento Vida Melhor (MVM), criou o CataVento, grupo formado por voluntários que atua nos cemitérios da cidade, lugares onde é comum encontrar crianças que vendem serviço de limpeza de túmulos. As atividades começaram este ano, no Dia das Mães, e acontecem em datas comemorativas, quando aumenta o fluxo de visitantes. Apesar de recente, o trabalho dos voluntários já conseguiu um grande feito: zerar o número de crianças trabalhando nos cemitérios visitados.O projeto surgiu a partir de um histórico envolvendo trabalho de menores nesses locais. Décadas atrás, havia o incentivo entre os funcionários, que vendiam a limpeza das lápides. O trabalho era “terceirizado”. “Muitas crianças eram designadas pelos funcionários, que viam seus salários aumentarem. Criou-se uma espécie de tradição”, contou Silvana Caetano, psicóloga da Comunidade Religiosa Santa Rita de Cássia. Com a troca da administração dos cemitérios, uma campanha permanente que proíbe a contratação de crianças foi criada. As mudanças também valem para os funcionários, que agora são proibidos de manter a tradição do passado, sob pena de demissão por justa causa. Um programa de conscientização entre os frequentadores também é realizado. “Pedimos para que as pessoas não peçam o serviço para crianças e estamos percebendo que está diminuindo cada vez mais.” São colocadas faixas de conscientização e há distribuição de panfletos aos visitantes, alertando para o não financiamento do trabalho infantil. Os voluntários, membros do Movimento Vida Melhor e funcionários dos cemitérios, abordam as crianças que ficam de prontidão para vender o serviço de limpeza. Estratégia Para atrair esses menores, é montada uma tenda com atividades lúdicas, pipoca e algodão doce. No local, as crianças são identificadas, bem como seus familiares. Posteriormente, são encaminhadas à ONG, que ajuda essas famílias. O grupo ainda oferece cesta básica. “Todas as crianças cadastradas no Dia das Mães foram localizadas e tivemos resultados interessantes. Muitas foram ajudadas, pais encaminhados a empregos e as crianças a núcleos para terem atividade no contraturno escolar”, disse Silvana.Os pais dos menores ainda receberam uma palestra, em que são apresentados os motivos da campanha. Após o sucesso da primeira ação, no Dia das Mães, quando 11 crianças foram cadastradas, veio mais um resultado positivo, em agosto. “Partimos para o Dia dos Pais, repetimos tudo e tivemos a boa surpresa de não termos nenhuma criança trabalhando. Parece que, de fato, o efeito que a gente queria foi alcançado.” Apesar da rápida resposta, o compromisso da equipe CataVento é de continuar as intervenções. A próxima será em 2 de novembro, no feriado de Finados. Todos os funcionários-voluntários passaram por treinamento na ONG. “O nosso objetivo foi mostrar para eles que muitas crianças que vêm aqui não trabalham para levar apenas o dinheiro para casa, mas são exploradas. Não estamos aqui para impedir que essas crianças carentes ganhem algum dinheiro, mas que as famílias consigam de outra forma, sem fazer com que a criança trabalhe”, disse Silvana.