comportamento

Olha o passado aqui no presente

Jovens têm saudade de um tempo que não viveram, quando a balada era discoteca e a vida parecia mais pulsante

Katia Camargo
03/12/2018 às 18:20.
Atualizado em 05/04/2022 às 22:49

Quem foi jovem entre os anos entre os anos 80 e 90 se lembra dos passinhos coreografados que tomavam conta do salão inteiro das discotecas. As músicas hoje denominadas flash house romperam gerações e continuam agradando muita gente. Quem, por exemplo, passou pelo evento Os Embalos de Sábado à Noite, ocorrido na Torre do Castelo, nos meses de agosto e outubro, conseguiu fazer uma viagem no tempo ao som dos principais sucessos musicais dos anos 70, 80 e 90, no melhor estilo flashback ao ar livre. O evento ocorrido duas vezes neste ano fez diferentes gerações se juntarem ao som de canções como Bizarre Love Triangle, de New Order, Voyage, Voyage, de Desireless, Tarzan Boy, de Baltimora, Fax Yourself, de Sushine, para mostrar que o passinho continua bem vivo na cabeça e no coração da galera. Apesar de ainda não ter a data oficial definida, o evento Os Embalos de Sábado à Noite volta a ocorrer no próximo ano e deve mudar de lugar, devido ao grande número de pessoas presentes. Cada uma das festas reuniu pelo menos oito mil participantes ao som de cantores e bandas como Rádio Táxi, Legião Urbana, Cazuza, Kid Abelha, Blitz, ABBA, Madona, Cyndi Lauper, Bee Gees, Carpenters e muitos outros. Gerações em ebulição No recém-lançado livro Gerações em Ebulição – O Passado do Futuro e o Futuro do Passado, Mario Sério Cortella e Pedro Bial afirmam que o Brasil é um país fundado na saudade. A saudade do português, a saudade do negro – banzo-, do índio e a saudade do futuro. Os autores, que estiveram no teatro do Shopping Iguatemi, conversaram com a Metrópole sobre o tema. Cortella e Bial destacaram que percebem parte da juventude se aproximando e se apropriando de referências e comportamentos de gerações anteriores, e isso inclui o gosto pela música feita em décadas anteriores. “Os jovens têm voltado seu olhar para o passado até como uma saudade de um momento que não viveram e canções como as de Cazuza, Titãs, Legião Urbana e Beatles continuam sendo imortais”, destaca Cortella. “O livro traz várias referências musicais aliadas a fatos e momentos históricos do Brasil e analisa estes fatos mostrando ídolos que marcaram época e diferentes gerações”, afirma Pedro Bial. Já no livro Retromania: Pop’s Culture Addiction to its Own Past, de Simon Reynolds, o autor destaca que estamos voltando nossa atenção para o passado de uma maneira que nunca havíamos feito antes e que um dos principais aliados é a internet. O fato é que com milhares de textos, vídeos e discos temos oportunidade de ver algo que antes ficava restrito a bibliotecas e acervos, talvez isso justifique parte desse olhar para o passado. De geração a geração O que um ex-diretor internacional de uma empresa de medicamentos, uma economista e três crianças, entre dois anos e meio e três anos e meio, têm em comum, além de fazerem parte da mesma família? Todos são apaixonados por música e tem o repertório dos Beatles na ponta da língua. “Somos uma família muito musical, cresci ouvindo música de boa qualidade em casa e no carro. Meu pai passou essas referências e Beatles foi a porta de entrada para a música de qualidade e hoje passamos essas referências para os meus três filhos. Para se ter uma ideia, na casa dos meus pais as crianças têm instrumentos musicais e formam uma bandinha. Eles adoram esses momentos e recebem todo apoio do meu pai e da minha mãe”, conta Priscila Pansani Cappi Miethke, 37 anos, filha de Ernani e Regina Capri e mãe de Alec, 3 anos e meio, e dos gêmeos Axel e Alexa, de dois anos e meio. Ernani, 69 anos, sempre foi apaixonado por música e na década de 60 chegou a formar uma banda que tocava sucessos nacionais e internacionais. Mas como não dava para viver de música, a banda acabou e cada integrante seguiu outra profissão. Tanto que para casar Ernani acabou vendendo a guitarra e sua esposa Regina vendeu o acordeon. O fato de Ernani viajar pelo mundo a trabalho fez com que ele continuasse sua pesquisa musical e, em casa, a música sempre foi essência. “Faz parte da nossa rotina e nossos pais sempre gostaram de cantar e dançar”, destaca. Em uma das viagens de trabalho, Ernani foi parar na Inglaterra e passou por passou por Liverpool, indo parar no The Cavern Club, onde os Beatles começaram a tocar. “Tive a oportunidade de subir ao palco e fazer um playback da música Yesterday. Acredito que passei esse amor pela música para toda a minha família. Agora, sempre que tenho a oportunidade levo meus netos para curtir bandas, mesmo as bandas covers de grandes ídolos imortais, e eles adoram. Eles até já ensaiam cantarYellow Submarine, dos Beatles. Música boa nunca morre, ela se transforma e temos que apresentá-las às novas gerações sempre”, diz. Bolachas Assim como música boa nunca sai de moda, o vinil também continua conquistando o coração das pessoas. Em 2018, o vinil completou 70 anos, foi no dia 21 de junho que a Columbia Records lançou o primeiro disco de vinil de 12 polegadas e 33 1⁄3. Atualmente, muitos artistas e algumas empresas voltaram a lançar discos, como, por exemplo, Nando Reis, Paralamas do Sucesso, Marisa Monte e Fernanda Takai. Muita gente ainda tem toca-disco em casa e resolveu voltar a usar. Além disso, há os colecionadores que nunca deixaram de comprar discos. Muitas pessoas se encantam ao ver a capa de um álbum, adoram mudar o disco de um lado para o outro, ter percepções musicais diferentes. “São coisas diferentes que podem ser proporcionadas por um disco de vinil, uma vitrola e suas caixas de som. Não é só música. É muito mais que isso: é a música mais a arte”, afirma o baterista da banda .40 rockbrasil e administrador Eduardo Pietri, que coleciona vinis e gosta de procurar as raridades. Eduardo acredita que o aumento na busca por vinis está relacionado com o saudosismo e novos aparelhos de toca disco. “Quem gosta de ouvir uma boa música continua comprando os vinis. Eu sempre frequento o Beco do Batman, em São Paulo, e recentemente achei um vinil bem raro do Guns N’ Roses, fiquei muito feliz. Outro dia um amigo me ligou para doar os discos que eram do pai dele. Ele sabia que eu iria cuidar bem do acervo”, lembra. Segundo dados da empresa americana Nielsen Music, o consumo dos vinis cresceu, só em 2017, 3,1%, batendo a marca de nove milhões de cópias produzidas. Nos Estados Unidos, um recorde foi quebrado após a constatação de que o LP representa 14% de todas as vendas de músicas. A Sony voltou a fabricar discos de vinil no ano passado, devido ao aumento da demanda global pela música analógica. A mudança ocorreu quase 30 anos depois de a empresa decidir cancelar sua produção do formato em 1989. Onda retrô Algumas marcas de eletrodomésticos lançaram uma linha retrô. Baseada no sucesso de um minirrefrigerador, inspirados nas geladeiras de 1957, a Brastemp lançou fogão e geladeira com linhas redondas e cores como o vermelho. A marca de refrigerante Itubaina também lançou sua versão Itubaina Retrô. Móveis retrôs também estão em alta, como sofás, cômodas, armários em cores que vão desde azul, amarelo e vermelho, entre outros.

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