Obras de Salvador Dalí são doadas a São Carlos

Ele me deu cinco gravuras de Dalí. Fiquei enlouquecido com aquela imagem e pedi que ajudasse, me intermediasse uma conversa com Gala, de quem eu comprei as gravuras”, diz Ibaixe, referindo-se à mulher de Dalí, Elena Ivanovna Diakonova, conhecida como Gala, para quem pagou 300 moedas ouro. “Não sei te dizer o que quanto vale, mas naquela época já era muito dinheiro”, afirma.

Quase 40 anos depois, em 2002, foi confirmada a autenticidade do material pela perita inglesa Juliette Murphy, enquanto as gravuras estavam expostas na Câmara dos Deputados, em Brasília. Essa foi a única vez que as gravuras ficaram expostas para visitação. Desde que trouxe o acervo para o Brasil, em 1963, Ibaixe o mantém guardado a sete chaves no cofre. A expectativa da Prefeitura de São Carlos é colocá-lo em exposição no dia 4 de novembro, data de aniversário do município.

Contestação

A doação, porém, está sendo contestada pelo advogado João Ibaixe Jr., sobrinho do fazendeiro e presidente do Instituto Cultural Antonio Ibaixe — espaço que leva o nome do pai de Lover. O sobrinho alega que o ato não tem qualquer validade jurídica, porque o real titular e dono das obras seria o Instituto, que fica em São Paulo. Lover Ibaixe afirma que foi feita uma cláusula retroativa com o Instituto que o possibilita a doação.

“O Instituto, que era do meu do pai, tinha os direitos, porém, no contrato que assinamos, fica claro que posso readquirir a qualquer momento. Era apenas como uma garantia. O acervo é meu e quero doá-lo à minha cidade natal. A contestação não é válida.”

Na segunda-feira (8), o empresário e o prefeito Paulo Altomani assinaram um protocolo de intenção de doação entre o município de São Carlos e o doador, no qual ficou estabelecido que a cidade providenciará local adequado e seguro para receber o acervo, comprometendo-se a deixá-lo exposto permanentemente, bem como fica responsável pelos custos decorrentes do transporte, higienização, desinfecção, limpeza, separação, diagnóstico e catalogação do acervo. Também ficou definido que o acervo será identificado como Antônio Ibaixe, pai do doador.

Rinoceronte

Campinas foi a primeira cidade do Interior a sediar uma mostra 'Dalí Monumental', com 110 das 476 obras surrealistas de Salvador Dalí. Ocorreu em 1998, no Museu de Arte Contemporânea de Campinas (Macc), onde ficaram durante 30 dias.

Na época, a Prefeitura montou uma “operação de guerra” para receber um dos maiores trabalhos do artista, a escultura de bronze Rinoceronte Vestido de Renda, que pesa quatro toneladas.

O sucesso foi enorme, marcando recorde de público no museu com 10 mil visitantes. Para se ter ideia de tamanho apreço pela obra, foi feita uma campanha para que ela permanecesse na cidade, chamada Adote o Rino. Apesar das intenções, a movimentação sequer foi oficializada.

SAIBA MAIS

Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech, ou somente Salvador Dalí, nasceu em 11 de maio de 1904, na cidade espanhola de Figueres (Catalunha). Foi um dos mais importantes artistas plásticos surrealistas da Espanha. Com 17 anos iniciou os estudos na Escola de Belas Artes de São Fernando, em Madri, mas foi expulso da instituição cinco anos depois, pois afirmava que ninguém era suficientemente competente para o avaliar. Em 1929, viajou para Paris e conheceu Pablo Picasso, artista que muito o influenciou.

Logo, começou a fazer parte do movimento artístico conhecido como surrealismo. A década de 30 foi um período de grande produção artística de Dali. Nessa fase, o artista representava imagens do cotidiano com cores vivas, luminosidade e brilho. É dessa época uma de suas obras mais conhecidas,A Persistência da Memória, que mostra um relógio derretendo. Em 1934, Dali casou-se com a russa Elena Ivanovna Diakonova, conhecida como Gala, e logo depois foi expulso do movimento surrealista por o considerarem muito comercial. Gala morreu em 1982, deixando Dalí numa fase de grande tristeza e depressão. Morreu em Figueres, em 23 de janeiro de 1989.