O tsunami eleitoral das recentes eleições que dizimou figuras conhecidas do meio político e partidos tradicionais, não demonstra ter acabado. Ao contrário, com a afirmação da vontade popular o povo se sente fortalecido para avançar na varrição do que julga negativo na política. O resultado das eleições mostra que a mudança pretendida ainda não se completou. Vejamos o que os números mostram: O total de eleitores no Brasil é pouco mais de 147 milhões. Os votos recebidos por Bolsonaro foram de 57,7 milhões (ou 55,14% do total) e para Haddad foram 47 milhões (ou 44,9%). Ocorre que 42,4 milhões de pessoas (ou 30,87%) do total) não votaram em nenhum dos dois candidatos (21,2% se abstiveram, 7,43% anularam o voto e 2,15% votaram em branco). É um número significativo de insatisfeitos com o sistema mas que ainda não mostra a realidade. Se levarmos em consideração que muitos votos destinados a Bolsonaro ou a Haddad tiveram a intenção de impedir a vitória do outro, teremos um número maior de insatisfeitos que não tinham opção real de voto. Vamos supor um número relativamente baixo de 10% de votos destinados a Bolsonaro e Haddad que seguiram esse caminho por falta de opção (na realidade o número deve ser bem maior), teremos 10,5 milhões de pessoas que acrescidos aos 42,4 milhões (abstenção, branco e nulos) formam um contingente de 52,9 milhões de indivíduos que não ficaram totalmente satisfeitos com o resultado, ou seja, continuarão com o desejo forte de mudança sistêmica iniciado em 2016 até as eleições municipais de 2020. Se nas eleições de 2016 o vento de mudança atingiu primordialmente o PT, do qual Fernando Haddad prefeito foi a principal baixa, em 2020 a ventania deverá atingir outras siglas tradicionais e figuras conhecidas da política municipal. A busca pelo novo deverá continuar e, provavelmente, com mais vigor e intensidade devido ao alto grau de confiança adquirido pelos eleitores na capacidade de intervir nos acontecimentos. Comparações com outras eleições podem ser descabidas pois não tivemos situações semelhantes em que o indivíduo teve capacidade de intervir diretamente na campanha em curso como ocorreu nestas em que as redes sociais desempenharam papel fundamental. Como nas eleições municipais a televisão não terá a importância que tem nos pleitos estaduais e nacionais, a utilização das redes sociais terá maior significado, competindo com o trabalho realizado pelos tradicionais cabos eleitorais. O vento da mudança nas próximas eleições deverá favorecer a renovação radical nas prefeituras e câmaras de vereadores. As tentativas de continuidade, seja do titular atual do cargo ou a pretensão de fazer o sucessor encontrarão uma formidável barreira no eleitorado. A utilização das máquinas eleitorais com base na administração pública deverá perder sua importância e muitas vezes reverter negativamente a quem a utilizar, tal a facilidade de registro de eventos nas mãos dos cidadãos. O empoderamento do cidadão, possível graças às novas tecnologias veio para ficar. A cada dia as pessoas aprendem a utilizar melhor o que a ciência lhes colocou à disposição. Candidaturas associadas às velhas práticas deverão se vitimadas pela onda da mudança. A corrupção, a falta de ética, a ausência de iniciativas inovadoras são alguns dos fatores que contribuirão para a remoção de conhecidos vereadores e prefeitos nas próximas eleições. A facilidade de comunicação do eleitor com seus representantes permite que o exercício do mandato se torne mais transparente. Ao eleitor facilita a tomada de decisão, ao representante eleito, quando honesto e bem-intencionado, fornece um veículo de fácil manipulação de comunicação direta com seu eleitor, dispensando as velhas estruturas de marketing e comunicação institucional. As pessoas se reúnem hoje, para discutir política, em praças virtuais formadas pelas redes sociais, que tornam realidade a Ágora- praça pública na antiga Grécia- onde se reuniam para discutir a vida na Polis, cidade-estado. Seja na praça física ou virtual lembramos aqui Castro Alves: a praça é do povo, como o céu é do condor.