Aos 70 anos, Felipão se transformou no treinador mais velho a ser campeão brasileiro. A conquista é uma das mais importantes entre as 30 que agora acumula em sua brilhante carreira. E o Brasileirão de 2018 não se destaca apenas por ser muito mais valioso do que outras tantas competições que Felipão ganhou em centros de menor expressão no futebol, como Kuwait, Japão, Uzbequistão e China. O título sacramentado com a vitória por 1 a 0 sobre o Vasco da Gama é particularmente importante por ter sido conquistado no Brasil, onde Felipão sofreu a sua mais amarga derrota. É importante lembrar que o quarto lugar na Copa do Mundo de 2014 é a melhor campanha da Seleção Brasileira desde 2002 — ano da conquista do penta, sob comando do próprio Felipão. Mas, mesmo assim, é inegável o peso da inexplicável, inesquecível e inaceitável derrota por 7 a 1 para a Alemanha na semifinal. A goleada vergonhosa ficou, evidentemente, atrelada à imagem de Felipão. Ele fez sucesso na China depois do Mundial, mas, por aqui, seu nome sempre era imediatamente associado à Copa de 2014. Ninguém lembrava dos dois títulos da Libertadores, do Brasileiro pelo Grêmio ou das quatro conquistas na Copa do Brasil, uma delas pelo Criciúma. Até mesmo o penta ficou em segundo plano depois da tragédia de 8 de julho de 2014. Por ter um currículo brilhante, Felipão não merecia ficar ligado apenas a essa derrota. Felizmente, o futebol não permitiu tamanha injustiça. O Palmeiras tem a melhor estrutura do futebol brasileiro, mas Felipão não voltou ao Brasil para pegar um time superfavorito e “cumprir a obrigação” de ser campeão. Ele assumiu o comando do melhor time, sim. Mas esse melhor time era apenas o 6º colocado, após 16 rodadas. O que fez Felipão nas 21 partidas seguintes, com o mesmo elenco que estava fora do G4? Venceu 15 e empatou as outras seis. Os números são impressionantes. O Palmeiras com Felipão conquistou 51 pontos, bem mais do que o Corinthians (44), campeão de 2017, conquistou em todo o campeonato. O Palmeiras de Felipão marcou 36 gols, mais do que o Cruzeiro (34), com 16 jogos a mais. O vexame do 7 a 1 não deixará de fazer parte da história de Felipão, mas o futebol tratou de sobrepor aquela derrota com um grande título. Felipão mostrou que não é um técnico ultrapassado. E, para felicidade dos palmeirenses, esse talvez não tenha sido o último feito marcante de sua carreira. O velho Felipão ainda tem mais lenha para queimar.