JOGO RÁPIDO

O time que quebrou uma barreira

Coluna publicada na edição de 23/8/19 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
23/08/2019 às 01:00.
Atualizado em 30/03/2022 às 17:17

A crise do Figueirense foi tema da coluna antes do jogo contra a Ponte Preta. Escrevi que, mesmo fora de casa, a Macaca teria boas chances de vencer em virtude da gigantesca crise do adversário. Não deu outra. Mesmo sem fazer uma boa apresentação, a Ponte venceu por 1 a 0. Na terça-feira, o Cuiabá não precisou se esforçar tanto e venceu por 3 a 0 em um inacreditável WO. Em virtude de salários atrasados e outros problemas, os jogadores, que já tinham dado um sinal de alerta com o abandono dos treinos, cumpriram a promessa de não entrar em campo. O terrível momento do clube é apontado por alguns como uma evidência de que terceirizar o departamento de futebol é um modelo perigoso e condenado ao fracasso. Na verdade, o problema não está no modelo e sim na escolha do parceiro. O Figueirense começou a se transformar em empresa em 2017. O processo foi conduzido por um empresário investigado em diversos processos, inclusive da Lava Jato. Com um pingo de bom senso e responsabilidade, o clube já teria, naquele momento, encerrado as negociações e saído em busca de outros parceiros. O erro gravíssimo de 2017 salta aos olhos agora. Não sabemos ainda quais serão as consequências, mas talvez a atitude extrema do elenco seja positiva não apenas para a reconstrução do clube, mas também para o crescimento do futebol brasileiro. Em 2015, a CBF anunciou o “Fair Play Trabalhista” e prometeu tirar três pontos por partida de qualquer time das séries A, B e C com salários atrasados. Mas, para que a punição seja aplicada, é necessário que um atleta ou o sindicato faça uma denúncia ao STJD. O clube teria então 15 dias para efetuar o pagamento. Se o atraso persistir, o devedor começa a perder três pontos a cada jogo. Muitos clubes deixaram de cumprir suas obrigações de 2015 em diante, mas nenhum foi punido. Que atleta vai assumir o risco de, indiretamente, ser responsável pela perda de pontos que podem custar um rebaixamento, acesso, título ou vaga em torneio internacional? O elenco do Figueirense quebrou essa barreira. A CBF não pode mais fingir que não sabe que o salário está atrasado, ainda que a denúncia não seja feita formalmente. O Figueirense será julgado pelo WO e os atrasos também serão avaliados pelo STJD. A atitude extrema dos jogadores pode ter criado um precedente que, no futuro, forçará os clubes a cumprirem de verdade o tal Fair Play Trabalhista. Hoje, ele só existe no papel. O WO de terça-feira foi uma mancha triste no futebol brasileiro. No futuro, pode vir a ser um fato histórico.

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