O jeitinho brasileiro está aí, mais presente do que nunca. A Copa das Confederações, que serve de teste para a Copa do Mundo, serve de teste também para o jeitinho se atualizar para 2014.
Como todos imaginavam em 2007, quando a Fifa anunciou que o Brasil seria o país-sede, as obras foram deixadas para depois. A infraestrutura, então, ficou no papel. E com a sombra dos prazos previstos para a entrega dos estádios se aproximando, e as ameaças fajutas de uma possível mudança de sede, milhões de reais a mais foram torrados com a desculpa da urgência (lê-se roubalheira).
Os estádios foram construídos, ou reformados, nos preços que foram, a partir do padrão europeu. Mas aqui, a cultura é outra. Aqui vale a Lei de Gerson, em que o que importa é se dar bem. Aqui existe o jeitinho, que dá jeito para tudo. Inclusive para entrar nos estádios sem passar pelo detector de metais por causa da aglomeração de última hora. Para evitar tumultos — e comentários estrangeiros! —, abriram as portas do Maracanã no último domingo, como fizeram em 1950.
Esse jeitinho de fazer as coisas à brasileira permitiu que os estádios fossem entregues com parafusos soltos, ferragens à mostra, banheiros apertados, assentos sem espaço para as pernas, telhados que caem na primeira chuva... Tudo com muito samba, alegria e discursos, mas sem qualquer legado útil ao País. E a população, acostumada com os péssimos exemplos de quem está no poder, deixa-se levar pela emoção, cega de paixão, para participar da “festa” do futebol.
Afinal, somos o País do futebol, não o da cobrança ao governo. E nem percebemos que essa “festa” não é nossa. Já nos orientaram a não vender acarajés, tutus e lanches de pernil a menos de dois quilômetros de qualquer estádio, porque esse não é um evento do Brasil, e sim da Fifa, e nos eventos dela só se come McDonald's e se bebe Budweiser, que são as empresas que pagam a publicidade e, por isso, têm o direito de mandar nos nossos costumes também. Nenhum estrangeiro poderá comprar uma camisa de um varal numa esquina qualquer, por exemplo, porque só as lojas oficiais da entidade estão autorizadas a receber nosso dinheiro.
E a que conclusão chegamos? Que, na verdade, o jeitinho brasileiro nunca preocupou a Fifa. Só distraiu os olhares para que o “jeitinho fifeiro” faça conosco o que bem entende. Ditando as regras do que devemos comer, beber, vestir, falar e até torcer, tudo dentro de um espaço determinado por eles, pagando o preço estipulado por eles.
Sabe o que é pior? Passaremos por tudo isso com o sorriso no rosto, típico dos brasileiros. É, não tinha lugar melhor para a Fifa fazer a Copa dela.