O som das panelas

“O que será, que será?/ Que andam suspirando pelas alcovas/ Que andam sussurrando em versos e trovas/ Que andam combinando no breu das tocas/ Que anda nas cabeças, anda nas bocas/ Que andam acendendo velas nos becos/ Que estão falando alto pelos botecos/ E gritam nos mercados que com certeza” - são versos de Chico Buarque de Holanda, emérito petista.Pois o povo cansou-se desse romantismo piegas e resolveu protestar contra o esquerdismo de boutique. E eis que a popularidade da presidente Dillma Rousseff está abaixo da inflação, rastejando como umbigo de cobra. Nenhum brasileiro suspira pelas alcovas, mesmo porque não há tesão que resista a uma falta de grana no fim do mês. E muito menos falar ao pé da orelha da mulher amada versos e trovas de boletos vencidos. E o que anda nas cabeças e bocas do país são milhões de brasileiros que não se conformam em ter sido tapeados por uma quadrilha que assaltou os cofres públicos, roubando centenas de milhões de reais no caso mensalão; roubando dezenas de bilhões de reais no caso petrolão; e, agora, estima-se, centenas de bilhões de reais no caso eletrolão, na mais recente operação da Polícia Federal denominada Radiotividade. E nos falta ainda investigações sobre as ongs brasileiras, fundos de pensões e fundo de amparo ao trabalhador, o nosso digníssimo FAT - fato que pode quebrar, infelizmente, a espinha dorsal do sindicalismo brasileiro - e é sempre bom dizer que o antagonismo de qualquer coisa é o que nos faz repensar conceitos políticos, sociais e econômicos.No próximo 16 de agosto os brasileiros de boa saúde profissional, honestos e competentes, estarão nas ruas brasileiras de centenas de cidades do país. Leio que o senador Aécio Neves apoia o movimento - embora um tanto tardio. Afinal, na última eleição presidencial ele recebeu 51.041.155 votos de opositores petistas e fez um quase nada a respeito. Ou seja, ele demorou para perceber que tínhamos lhe dado a responsabilidade de liderar a oposição ao petismo desenfreado, maluco e irresponsável. E é claro que nenhum político terá a coragem de aparecer na manifestação apartidária, mesmo porque não é caso de lugar - pois o contrário tratar-se-ia de suicídio político. Compositor popular, e tão somente isso, Chico Buarque jamais entendeu os menores sonhos dos brasileiros que fazem a riqueza deste país e mais do que emprestou apoio ideológico a uma negociata petista. Como é mesmo o resto? “Que andam combinando no breu das tocas/ Que anda nas cabeças, anda nas bocas/ Que andam acendendo velas nos becos/ Que estão falando alto pelos botecos/ E gritam nos mercados que com certeza...” - e está na natureza dos homens honestos do país o respeito às leis republicanas, constitucionais, que não se conformam com tanta roubalheira, e que apenas exigem respeito a seu suor diário, às suas angústias salariais, visto que a vida é sempre um eterno sacrifício, bíblico e terreno, embora o ganho honesto lhe faça repousar a cabeça no travesseiro, em paz, ao lado da companheira, dos filhos, e sempre honrado ao respeito dos amigos de trabalho, bar e esperança.E eis aí uma nova operação da Polícia Federal que mobilizou 180 policiais federais para cumprir 23 mandatos de busca e apreensão, dois de prisão temporária e cinco de condução coercitiva em Brasília, Niterói, Barueri, São Paulo e Rio de Janeiro. Depois do mensalão e petrolão, agora temos o Eletrolão. O que se vai apurar agora no setor eletronuclear brasileiro é o mesmo esquema de corrupção que envolveu a Petrobras. Os bandidos são os mesmos e os métodos, é claro, são os mesmos que foram praticados no mensalão e petrolão. Perto de tanta ladroagem, meu raro leitor, o impichamento da presidente Dillma Rousseff é café fraco, frio e com formiga no fundo. E Lulla da Sillva, é claro, diz que não tem nada com isso. Há um silêncio republicano no meu país. Mas se a presidente Dillma prestar atenção ouvirá o som de milhões de palhas de aço areando panelas, frigideiras, caldeirões e caçarolas. Seus ouvidos moucos a trairão. E ela que não reclame de comer panetone bem longe da Alvorada - que amanhecer jamais será; quem sabe um anoitecer às páginas republicanas da história do Brasil. E assim falarão as panelas.Bom dia.