JOAQUIM MOTTA

O santo do pau cheio 2

Joaquim Motta
igpaulista@rac.com.br
22/03/2013 às 05:01.
Atualizado em 25/04/2022 às 23:35

ig - joaquim motta (cedoc)

Dou seguimento ao artigo passado, respondendo às pessoas que me enviaram comentários e adendos.

O novo papa assumiu seu posto e tem trabalhado com carisma destacado e simpatia original. É apontado como uma pessoa verdadeiramente sagrada, um santo homem. A formação jesuíta e as inspirações franciscanas sustentam a índole caridosa do pontífice, municiando o empenho pelos pobres e necessitados.

O comportamento de Francisco exalta as virtudes teologais (fé, esperança e caridade) e mobiliza católicos e simpatizantes para uma convivência mais justa e equitativa. A caridade que ele vem exercendo com espontaneidade e intenção pastoral é ótimo exemplo de desenvolvimento espiritual e afetividade social.

A alma preparada e alimentada com afeto e ética é a mais importante característica da pessoa que sente, pensa e atua como ser humano digno. Francisco e vários sacerdotes católicos têm esse caráter nobre, esse espírito virtuoso, guiado pela verdade, justiça e amor aos homens.

Em outras religiões e entre ateus, no clero e no laicato, também se encontram pessoas com essas qualidades espirituais. Elas não são privilégio do grupo eclesiástico do catolicismo. No entanto, infelizmente, o detalhe exclusivo do trabalho dos padres é a necessidade tradicional de esconder o corpo. Parece que eles não conseguem se expressar pela alma sem negar a carne.

Se o papa tem que se apresentar com mitra, solidéu, batina branca, sapato vermelho “cor de sangue de Cristo” e tantos outros detalhes conforme os rituais, que o faça, como o capitão do navio que exibe farda impecável.

Mas, depois, por que não poderia vestir uma calça jeans, uma camisa quentinha, uma jaqueta de couro, neste final de inverno romano? E mais adiante nas estações, passear por uma praia com bermuda e camiseta regata, no verão francês? E mais, depois de cumpridas as missões sacerdotais, por que não estar em casa com a companheira, trocar beijos, carícias e curtir uma relação sexual divertida e prazerosa?

A essência da nossa crítica é resgatar o sacerdote católico como homem completo. Ele é corpo e alma, ele não pode segregar-se psicossomaticamente. Compreender o indivíduo, pessoal e socialmente, e o funcionamento dessa unidade de integração corporal e anímica são as bases da medicina psicossomática.

Se fôssemos rigorosos com esse título, dispensaríamos o adjetivo. A medicina seria naturalmente psicossomática, mas os hábitos históricos resistiram à associação. A religião sempre pretendeu alcançar milagres. Buscar tratamentos e curas mágicas induziu a separação do corpo e da alma. Isso corroborou o esforço moralista de segregar a carne do espírito.

Na sociedade primitiva, antes da escrita, quando começavam as primeiras fixações dos povos agrícolas, cerca de 10 mil anos a. C., a doença tinha como causa os poderes espirituais e era enfrentada desse modo (exorcismos).

O antropologista John W. Verano indica que cinco mil anos depois, em época bem próxima da escrita, já havia a prática da trepanação (perfurar o crânio, técnica muito especializada da cirurgia dos dias de hoje). Na civilização assírio-babilônica, 2500 anos a.C., a medicina era controlada pela religião. A sugestão era recurso terapêutico na Mesopotâmia.

Na Grécia antiga, cerca de 400 anos a. C., para cuidar do corpo, era necessário conhecer o todo e a importância da alma. Na transição da civilização helênica para a cultura romana, até quatro séculos d. C., os fluidos do corpo eram os focos principais da medicina.

Durante o milênio da Idade Média, a religião e o misticismo tomaram conta: o pecado era causador das moléstias.

Maimônides, médico mouro do séc. 12, não se abalou: "Uma consulta deve durar uma hora. Durante dez minutos, ausculte os órgãos do paciente. Nos cinquenta minutos restantes, sonde-lhe a alma".

Nos dois séculos do Renascimento, as ciências naturais são valorizadas. Tudo é medido cientificamente. Na subjetividade mental e espiritual, os problemas eram considerados “não científicos”, relegados à religião e à filosofia.

No séc. 19 e início do 20, procuravam-se alterações estruturais das células para entender e tratar as doenças, de modo que o enfoque psicossomático seguiria renegado. Até que, nas décadas recentes, a medicina se recicla cada vez mais como psicossomática e caracteriza a saúde sexual como necessária e indispensável à boa integração carne-espírito-sociedade.

A religião católica também precisa dessa reciclagem. Dos padres mais comuns ao papa, todos deveriam integrar-se psicossomaticamente. Com a carne atendida, poderiam ser muito mais santos no espírito. A Igreja deveria santificar os verdadeiros valores da alma: o ser amoroso, ético, honesto, leal, real, incorruptível. E jamais considerar a castidade e o celibato como pontes para a santidade.

Quero lembrar ao leitor do nosso Grupo de Estudos do Amor (GEA). Informe-se no site www.blove.med.br.

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