O mundo católico se volta para a eleição de um novo papa, em momento de profunda revisão crítica da Igreja. Ela está ajoelhada diante do confessionário, precisando se abrir em pungente ato de contrição e achar meios de se perdoar.Esse perdão, no entanto, depende do fator mais óbvio e indispensável das confissões: o mais extenso e profundo arrependimento que se consegue.Para se arrepender neste nível de autenticidade, a Igreja precisa que seus homens não prossigam negando todos os seus verdadeiros pecados. São eles: a vaidade, a gula, a avareza, a inveja, a ira, a preguiça e os crimes sexuais.A lista é conhecida de qualquer cristão ou mesmo crentes de outras religiões. São os famigerados pecados capitais, exceção da luxúria que aqui se representa apenas no limite que consideramos devido: no sexo criminoso.Em geral, com raras, honradas e elogiáveis exceções, o clérigo é excessivamente vaidoso, adora o poder, compete pela hierarquia e a autoridade. Nesse contexto, deixa-se levar pela corrupção, a desonestidade e a falta de ética.Gulosos e avarentos se deliciam com as festas e reservas de consumo. Os mais temerosos concentram forças odiosas e violentas em seus domínios. A rivalidade invejosa é estimulada e reforçada. O relaxamento preguiçoso é automático e cômodo.Os crimes sexuais, especialmente a decantada pedofilia, merecem punição exemplar, indiscutivelmente. Mas foi ela que promoveu a revolução atual, o abuso sexual abriu a porta da hipocrisia que era a fortaleza moral até então inexpugnável dos sacerdotes.O sexo e o catolicismo precisam de novos panoramas e ajustes. A pretensa castidade da Igreja tradicional é equivalente a um desvio pernicioso ou uma trajetória perversa da natureza humana. É delito ou doença.Homens e mulheres que se orientam pela bússola da verdadeira vocação sacerdotal teriam que ter vida sexual idêntica a qualquer pessoa leiga, agnóstica ou ateia.Namorar, ficar, transar, evitar gravidez, usar preservativo, tomar pílula, casar, separar, formar família, tendências homo ou bissexuais, preocupar-se com traição, ciúme, seria tudo do mesmo jeito.A glória maior, o destaque sobre-humano, a renúncia essencial do sacerdócio, jamais poderia sera castidade. O grande valor estaria na verdade e no amor.Empenhar-se por essas qualidades envolve relações entre pessoas, portanto, amor e verdade humanos, com a índole do bom caráter e o instinto sexual.O modelo de verdade e amor divinos estão deturpados nas concepções conservadoras – elas negam o erotismo e cultuam o perfeccionismo da santificação falaciosa.O maior e melhor santo seria o que se conduzisse pelos exemplos de virtudes não determinadas pela moral, mas pela ética, pela resistência à corrupção, pela vivência democrática e desapego ao poder.Com a devida cautela, para não cairmos no lodo machista, é evidente que seria uma prática independente de gênero, mulheres e homens sem distinção.Entretanto, para a referência que nos interessa, teríamos que aqui nos reportar ao folclore brasileiro. Precisamos de um conceito histórico, o “santo do pau oco”, e de uma convenção equivocada da virilidade masculina, o “pau duro”.No tempo do Brasil colonial, santos do pau oco eram imagens rústicas, esculpidas em madeira oca, utilizadas para esconder ouro e pedras preciosas, para driblar a cobrança dos impostos da Coroa Portuguesa. As imagens (santos, santas, madonas) recheadas de preciosidades passavam despercebidas pela fiscalização.Com o tempo, o ar dissimulado e matreiro foi associado aos santos que não atendiam aos pedidos, faltavam em milagres.O pau duro é um engano fisiológico. O pênis não é um músculo que se hipertrofia com exercícios, não é um osso, é um equivalente de esponja que se dilata, intumesce com sangue, quando há excitação sexual. Portanto, apesar de parecer duro, na verdade, ele fica cheio.Quando se completar essa revolução crítica da Igreja, na sua alma, o santo estará recheado de amor, ética, honestidade e justiça. E o seu corpo estará pronto e motivado para o prazer erótico.Teríamos o santo competente, legítimo e voluntário, o santo de pau cheio. E entre os pecados da Igreja, as estatísticas achatarão os crimes sexuais para índices insignificantes.Quero lembrar ao leitor do nosso Grupo de Estudos do Amor (GEA). No site www.blove.med.br, clique GEA. Ou procure em http://www.anggulo.com.br/gea/eventos.asp, para acompanhar nossas programações.