Toda manifestação pública é válida e faz parte do processo democrático, instituindo uma forma de participação da vida política e de expressão da vontade popular. O Brasil deu um passo importante neste sentido com a sociedade ganhando as ruas no mês de junho para dar o seu grito de protesto generalizado, deixando clara a divergência com a condução política, a indignação com a corrupção generalizada, além de bandeiras específicas de partidos e grupos sociais.O saldo das passeatas ainda está por ser avaliado, mas alguns resultados negativos podem ser destacados. A paisagem política ficou definitivamente marcada pelas ações violentas de alguns grupos, ou mesmo isoladas, que mancharam o que começou como um protesto pacífico, transbordando para o vandalismo, a agressão, a provocação e, no caso policial, a arbitrariedade e despreparo. Ao tempo em que refluíram as grandes massas que deram o seu recado nas ruas, permaneceram os vândalos, agitadores, bandidos e aproveitadores, semeando a violência sob pretextos os mais diversos, mas que representa apenas o oportunismo da fragilidade da situação. O caso do Rio de Janeiro, parcialmente abafado com a visita papal, é emblemático, com ladrões e quadrilhas saqueando lojas e, cinicamente, travestindo o arrastão em protesto contra o governador.Em Campinas, ainda se podem notar vestígios da violência. O dia 20 de junho ficará marcado na história como um manifesto histórico que reuniu 35 mil pessoas nas ruas da cidade, mas também pelo descontrole de alguns vândalos que se aproveitaram da confusão para instalar a baderna. Nesta semana, a Prefeitura começou a troca de vidros quebrados no Paço Municipal, a um custo anunciado de R$ 76 mil, e a Emdec contabilizou R$ 27 mil para os reparos em pontos de ônibus, sem contar os estragos dos jardins, ônibus e propriedades particulares (Correio Popular, 26/7, A10).Se já existe o ônus inaceitável da violência que afetou a rotina da população, o município ainda arca com despesas absurdas, remanejando verbas que poderiam ser aplicadas em setores carentes. Uma cidade que não tem gaze e luvas de procedimento médico em algumas UBSs não pode arcar com estes prejuízos. O vandalismo é crime e seus autores devem ser identificados, autuados, detidos e obrigados a ressarcir os prejudicados. É preciso deixar absolutamente claro que manifestação de protesto não é alvará para molecagens ou bandidagem.