MARCOS INHAUSER

O problema é o cabelo

09/04/2014 às 05:00.
Atualizado em 27/04/2022 às 01:27

Na última sexta-feira (4) fiquei por sete horas no aeroporto de Dubai esperando uma conexão para Beijing. Não me lembro de outra vez que tenha me defrontado com tal variedade de raças, nacionalidades, religiões em um só lugar. Era um constante desfile das mais variadas cores de pele, de roupa e tipos de vestimenta. Indus, chineses, árabes, judeus, africanos, gringos de várias partes e alguns brasileiros. Parado ali, era impossível não prestar atenção nesta variedade. Mulheres com roupas elegantes e caras, outras vestidas de bermuda e camiseta, outras com roupa típica e ainda havia as que usavam burca que mal deixava os olhos à vista, outras com a cabeça coberta e a face à vista, gente de roupa preta, com cores berrantes, chapéus, bonés. Um desfile de moda mundial. Nesta passarela começou a me chamar a atenção o quanto as religiões mexem ou tem problemas com o cabelo, especialmente das mulheres. Uma quantidade delas estava com a cabeça coberta por razões religiosas. Podia se perceber que algumas delas tinham por baixo do véu negro ou da cobertura que usavam, um penteado a adornar. Nisto passou um monge budista e também nele estava a marca do problema que a religião tem com os cabelos: tinha a cabeça raspada. Isto me levou a pensar que havia em Israel os nazireus, homens consagrados que não bebiam bebida forte e nem cortavam o cabelo. O exemplo mais conhecido deles é Sansão quem, segundo o relato bíblico, tinha sua força no cabelo. Lembrei-me também de Paulo que, por causa de um voto feito quando retornou a Jerusalém, raspou a cabeça.Ele também deu orientações à igreja em Corinto sobre o cabelo da mulher e do homem e o uso do véu por parte das mulheres. Mais tarde vi um judeu ortodoxo com a cabeça raspada e só as costeletas crescidas e encaracoladas. Lembrei-me que em muitas religiões africanas a cabeça raspada é sinal de consagração e que nos cultos afros que existem no Brasil há a cerimônia de fazer a cabeça, que é um rito que inclui a raspagem dela. No mundo cristão as monjas tem seu cabelo escondido, nas denominações pentecostais muitas não deixam cortar o cabelo. Há as que exigem véu ou pequenos gorros sobre a cabeça. Nestas considerações comecei a me perguntar o porquê desta implicância religiosa com o cabelo e confesso que não encontrei nenhuma fundamentação razoável seja de natureza bíblica ou teológica. Fica para mim a impressão de que, para o homem, a cabeça raspada é sinal de autoridade espiritual e na mulher o cabelo é tentação, provocação e sensualidade. E ao implicarem com o cabelo delas as religiões se transformam em fábrica de feiura. Por outro lado, se a intenção é não chamar a atenção, acho que se equivocam: tanto eu como outros homens que ali estavam olhávamos para estas aberrações. Fico a pensar que as religiões, ao assim proceder, criticam ao Criador que fez aos humanos com cabelo e com a capacidade de usá-lo para adornar e dar identidade às pessoas.

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