CARLO CARCANI

O preço do futebol

Carlo Carcani
14/08/2013 às 19:57.
Atualizado em 25/04/2022 às 05:24

O futebol brasileiro vive um período de transformação em diversos setores, mas principalmente no modo como se relaciona com seu público. Negócio com capacidade para movimentar milhões (de reais e de pessoas), não pode mais ser comparado com o que era há 20 ou 30 anos.Diversos fatores que eram irrelevantes nos anos 70 não podem ser desprezados agora. Da mesma forma, a transformação precisa levar em consideração as características do nosso futebol. Muitas coisas que funcionam bem lá fora devem ser incorporadas no Brasil, mas não existe uma receita pronta. É preciso analisar o mercado para ver o que funciona bem por aqui e o que deve ser deixado de lado.Futebol envolve paixão, mas nem por isso deixa de ser um negócio. O amor do torcedor deve ser usado para ajudar o clube a crescer e não para deixá-lo estagnado em modelos do passado. A paixão é um ingrediente bastante especial, mas nem por isso o futebol deixa de ser um negócio. Um grande negócio, na verdade. E, como tal, exige um gerenciamento competente para funcionar.Ter dinheiro em caixa não é garantia de sucesso, mas é inegável que, quanto maior o orçamento, maior a chance de alcançar os objetivos. É por isso que todo clube deve procurar maximizar suas fontes de receita. Todas elas, inclusive a de bilheteria. A média de público do Brasileirão aumentou com a utilização das novas arenas, mas é evidente que alguns ajustes precisam ser feitos. Os clássicos cariocas têm sido eletrizantes, mas os lugares nobres do Maracanã continuam às moscas. Para o bem dos clubes, investidores e fãs, é necessário corrigir essa distorção rapidamente.Os estádios são modernos e oferecem uma nova experiência para quem quer ver uma partida ao vivo. Evidentemente, isso tem um custo, mas é um erro grave jogar o preço dos ingressos nas alturas, em busca de lucro imediato. Se insistir em cobrar valores abusivos, o futebol perderá público. Considero ridícula a postura de quem defende ingressos a preço de banana para um espetáculo tão caro como o futebol. Mas, da mesma forma, não faz o menor sentido cobrar R$ 180 por um ingresso em jogos comuns. Um casal com dois filhos pequenos teria que gastar, só com ingressos, mais de R$ 500, para ver o Fla-Flu em uma região central do Maracanã. Vai ficar vazio mesmo. É burrice cobrar esse preço, ainda que o valor arrecadado seja considerado satisfatório pelos clubes e administradores das arenas.A meta deve ser ocupar todos os lugares, não apenas para ter rendas maiores, mas também para aumentar o faturamento com outros serviços. Além disso, quanto maior for a média de público, maior será o poder de negociação dos clubes com a TV e patrocinadores. Estádios lotados não apenas geram arrecadação, como também fortalecem a imagem dos clubes, dos campeonatos, do futebol como um todo.Como escrevi no início, o futebol mexe com a paixão de milhões de pessoas. Levar milhares delas aos estádios em todos os jogos e não apenas de vez em quando é o desafio dos clubes e agora também dos consórcios que gerenciam as novas arenas. O primeiro passo (e não o único) é adequar os preços dos ingressos.

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