Após o lamentável episódio da Libertadores, no qual torcedores peruanos imitaram macacos para ofender o meia Tinga, o futebol brasileiro usou toda sua capacidade de fingir indignação. A CBF fez campanha nas redes sociais, a presidente Dilma falou de racismo em seu encontro com o Papa e até as torcidas organizadas do Atlético Mineiro mostraram que também têm coração. No clássico contra o Cruzeiro, xingaram Tinga, com a ressalva de que estavam a seu lado no caso do racismo.Semanas depois, porém, quase não se fala sobre o assunto. E é justamente isso que a péssima Conmebol espera: que o tempo esfrie os ânimos e reduza as críticas. Assim, suas competições poderão seguir normalmente, sem maiores consequências para os probleminhas de sempre: um garoto assassinado aqui, uma decisão com um tempo só acolá, uns idiotas fazendo macaquices nos Andes...No domingo, após o clássico realizado no Morumbi, um torcedor de 34 anos estava em um ponto de ônibus com a camisa do Santos. Por esse “motivo”, foi atacado por cerca de 15 “torcedores” do São Paulo que passavam pelo local. Foi covardemente espancado com barras de ferro e veio a morrer horas depois.Como a CBF reagiu a um ato tão bárbaro, inadmissível, desolador e estúpido? Postou alguma frase de efeito no Facebook? Redigiu um manifesto de repúdio no site oficial? Exigiu providências imediatas das autoridades?Não, nada disso. O site da CBF preferiu destacar que o presidente José Maria Marin recebeu na segunda-feira o presidente da Câmara Federal, Henrique Eduardo Alves. E que o nobre deputado ganhou um pin de ouro, a maior honraria da CBF. Horas depois do assassinato de um torcedor, o pin de ouro foi destaque na página da entidade. Da barra de ferro ninguém falou nada.Do mesmo modo, o governo ignorou o assunto. No dia seguinte ao caso de racismo da torcida do Real Garcilaso, Dilma se manisfestou pelo Twitter. "Foi lamentável o episódio de racismo contra o jogador Tinga", "Hoje o Brasil inteiro está #FechadoComOTinga" e "Acertei com a ONU e a Fifa que a nossa #CopaDasCopas também será a #CopaContraORacismo", foram algumas frases de Dilma.Sobre o assassinato de domingo, não vi nenhuma manifestação da presidente. É muito fácil criticar os erros dos peruanos e prometer à Fifa, à ONU e ao Papa que o Brasil vai fazer isso e aquilo. Difícil é reconhecer os próprios problemas e tentar resolvê-los. #TorcedorMorto NinguemLigaPraVoce