ZEZA AMARAL

O papa e o agnóstico

25/07/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 07:42
Colunista Zeza Amaral (Cedoc/RAC)

Colunista Zeza Amaral (Cedoc/RAC)

O papa Francisco chegou para limpar os encanamentos políticos de um condomínio político e nem precisou se ajoelhar e beijar o solo do país, certo de que se tratava de terreno poluído e pleno de germes e bactérias nocivos. E tão certo estava de suas convicções que ofereceu dois ósculos emblemáticos às bochechas presidenciais; assim como outros papas já dedicaram a pés de humildes e anônimos homens sem eira nem beira, desde priscas eras de um Homem que se chamava Jesus, o Ungido, o Cristo. A Igreja Católica não teme o pecador; antes, dele se aproxima e busca oferecer ajuda e convencê-lo a pedir perdão pelos pecados cometidos, a fim de que compreenda o erro e, a seguir, mantê-lo sempre alerta para que não recaia no vício moral. O mal reside no pecado, e será sempre combatido e penalmente judiciado em todas as sociedades política e democraticamente harmonizadas. E eis aí o papel do papa, seja João, seja Pio, seja Francisco. O fato histórico é que todas as sociedades democráticas — com os seus crentes e não tão crentes assim — foram construídas segundo dogmas cristãos. Nada sei da existência de Deus e muito menos do Seu Filho, o Ungido — assim escrito em maiúsculas por respeito aos homens crentes, e à estética e normas gramaticais — já que o superlativo também tem algo a ver com a metafísica da ignorância humana, pois agnóstico é o que sou diante da vastidão da fé professada por bilhões de outros homens que, como eu, são acometidos de diarreia, dores de cabeça, queratocistos odontogênicos, cânceres, ou, como constatei no supermercado, do desconhecimento de uma leguminosa chamada jiló por parte de um jovem funcionário que cuida de repor produtos hortaliceiros. Cristo e jiló, fé e descrença. De quem é a fé, o conhecimento? O papa Francisco é um homem comum e tão especial quanto aos bilhões de seres que habitam o nosso planeta, essa bolinha de terra que o Deus da Gravidade faz girar em volta de um Sol que nos dá calor e vida. E também tango, samba e tantas outras angústias lítero-musicais. A vinda de qualquer homem que venha em nome de Cristo, o Ungido, é sempre uma esperança ética que nos reside, que nos alimenta em dúvidas, nas palavras de nossos poetas, bardos das ruas, nas imprecações bêbadas dos destituídos, dos que dormem sobre os germes que a civilização deixa nas calçadas, pois os impostos que todos pagam parecem a sujeira que os corruptos levam para seus bolsos, bem lavados pelas chicanas jurídicas. Tenho fé nos homens de boa vontade e assim considero todos os papas e mais líderes religiosos que proclamam a paz entre os homens. Tenho em mim quase sete décadas de existência e nenhuma capaz de me oferecer uma certa paz de espírito, nenhum acalanto filosófico, um único que seja capaz de acalmar a angústia que busco em dar sentido em amar meus filhos, netos, amigos e a companheira. A vida segue como o peregrino Francisco que vem levando a sua vida tentando fazer melhor a vida de todos nós, pregando as palavras cristãs nas quais acredita e seguindo o seu próprio caminho que, bem sei e ele sabe, com as próprias angústias de quem bem vive com as certezas e dúvidas de uma vida antes e após a morte. E eu que bem sei da morte dos amigos, irmãos, pais, filho e companheiras, sem poesia e filosofadas, em maiúsculas letras escrevo Vida, esse sabor imaterial que os políticos desconhecem por falta de língua ética e sabor moral. E que assim seja Ela, a Vida, a paz entre os jovens que voltarão a se manifestar nas ruas brasileiras contra a demagogia dos políticos e seus desejos de se darem bem na vida. Vida longa ao papa que nos visita, é o que desejo; e que o petismo entenda que a democracia está além da fé da militância sectária e da ignorância política manifestada no discurso da presidente Dilma Rousseff, pois além da politicalha dita, pois de latrina política, mesquinha e vaidosa, desonrou o cargo que ora ocupa e a inteligência do povo brasileiro. E isso tudo é o que me faz diferente dessa velha e manipuladora gente esquerdista: sou agnóstico. Democrático, só acredito nos homens que seguem o Estado de Direito. E na fé dos que acreditam na Eternidade. Seja bem-vindo, papa Francisco. Bom dia.

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