Em apenas três rodadas da Libertadores, já foram registrados pelo menos três incidentes graves de violência, todos protagonizados por integrantes de torcidas organizadas. O garoto Kevin morreu em Oruro atingido por um sinalizador naval disparado por corintianos, torcedores brigaram e depredaram o estádio Centenário no jogo Vélez x Peñarol e, ontem, torcedores do Palmeiras agrediram a delegação no aeroporto antes do embarque em Buenos Aires.
Um dia após a tragédia na Bolívia, a Conmebol puniu o Corinthians com certo rigor, proibindo o acesso de torcedores em todos os jogos do time em casa na Libertadores. O rigor acabou ontem, afinal já faz tempo que o menino morreu, não é mesmo? A punição durou apenas um jogo e ontem ficou bem mais leve: multa de US$ 200 mil e o veto da torcida do Corinthians em jogos fora de casa durante 18 meses. O clube já anunciou que vai recorrer e provavelmente terá sucesso, como aconteceu ontem.
Na briga no Uruguai, ninguém morreu e, por isso, a punição foi de apenas um jogo com portões fechados para o Velez, justamente na volta contra o Peñarol. Pena bem leve também.
E com toda essa permissividade, os torcedores violentos continuam aprontando. Ontem, atacaram a delegação do Palmeiras em um aeroporto de Buenos Aires, atirando copos e pratos.
O goleiro Fernando Prass sofreu cortes na cabeça e na orelha. Ele poderia ter perdido a visão, por exemplo. Mas como não aconteceu “nada demais” e nenhum passageiro morreu, é provável que a Conmebol ignore o fato.
Quem parece estar disposto a mudar esse cenário de permissividade com atos violentos e injustificáveis é o presidente do Palmeiras, Paulo Nobre. Ontem mesmo, ele anunciou que, enquanto a torcida não entregar o nome dos responsáveis pelo ataque, o clube não dará mais o que chamou de “regalias” à facção.
O problema já começa por aí. Os clubes (quase todos) financiam e apoiam grupos que, com enorme frequência, realizam atos criminosos.
Não acho possível que a mudança de postura do Palmeiras seja forte o suficiente para mudar o cenário no País todo, mas se o Governo e a Justiça comprarem a briga, aí sim as coisas podem melhorar. Não adianta nada o presidente da CBF e o ministro do Esporte afirmarem que esse comportamento é inadmissível. Enquanto os infratores não forem punidos com o rigor da lei, o problema só vai aumentar. Punir hoje e perdoar amanhã, como fez a Conmebol, também não adianta nada. É preciso combater o problema antes que casos mais graves aconteçam.