JOGO RÁPIDO

O mundo precisa olhar para eles

Coluna publicada na edição de 17/5/18 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
16/05/2018 às 19:14.
Atualizado em 28/04/2022 às 09:01

A tabela da Libertadores reservou para essa semana dois confrontos entre times brasileiros e venezuelanos. E nesses dois jogos (Monagas x Grêmio e Corinthians x Deportivo Lara), o futebol serviu para mostrar aos brasileiros um pouco mais do terrível drama que afeta os venezuelanos. Elenco, comissão técnica, dirigentes e pessoal de apoio do Grêmio ficaram comovidos com a situação dos funcionários do hotel em que a delegação ficou hospedada, em Maturín. Os gremistas doaram mantimentos e dinheiro a trabalhadores que convivem com inflação de mais de 1.700% ao mês e com escassez de produtos básicos e remédios. Os depoimentos são chocantes. “Vimos uma situação que é até arrepiante. Um ser humano pegando um prato de comida parecendo que era o último dia de vida”, descreveu Cícero. “Chega a machucar o coração. Recebemos pedidos para trazer remédio, papel higiênico e água. Trouxemos. O mundo precisa olhar mais para a Venezuela, pensar um pouco diferente. O que sentimos nos últimos três dias choca. Conseguimos ajudar algumas pessoas. Mas isso é um país, a coisa está muito feia”, disse o técnico Renato Gaúcho. Um adversário de hoje do Corinthians também se manifestou. Ricardo Andreutti, capitão do Deportivo Lara, escreveu em seu blog: “Saio às 6h para treinar com a esperança de quem fará o que mais ama. Em poucos minutos conto cinco pessoas revirando o lixo procurando o que comer. Ao voltar para casa depois de treinar, transito por perto de supermercados ou farmácias e observo longas filas que começam a se formar desde a madrugada para comprar produtos regulados”. E continua: “Se nosso presente é delicado, não dá nem para falar do que estamos fazendo pensando em nosso futuro. Levemos isso ao esporte. Como renderá um atleta de alta performance tendo sofrido desnutrição infantil? Como enfrentará suas tarefas cognitivas se seus estímulos intelectuais foram tão precários?” Em dois jogos, o futebol trouxe aos brasileiros detalhes da tragédia que destrói o presente e compromete o futuro de milhões de venezuelanos. Se você vota em quem admira, elogia e financia os responsáveis por esse crime contra a humanidade, tenha a certeza de que passou da hora de abrir os olhos para a realidade. Uma cruel realidade. Chávez, Maduro e seus companheiros transformaram um país rico em um lugar no qual uma garrafa de água se transforma em um bem precioso, capaz de ter mais relevância do que um jogo da Libertadores. Isso não é normal e, como disse Renato, o mundo precisa olhar mais para a Venezuela.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por