A globalização entrou em nova fase a partir da iniciativa da China de abrir uma nova rota da seda. Trata-se de um projeto ambicioso do governo chinês que pretende estabelecer rotas de comércio ligando diferentes partes do planeta à China. Em execução, esse projeto tem promovido grandes investimentos em portos, estradas e ferrovias construindo infraestrutura que servirá de base para o transporte de mercadorias nos dois sentidos. Commodities (agrícolas, minérios e petróleo) em direção ao país do Oriente e produtos industrializados no sentido inverso. Espera-se que a ação chinesa provoque o surgimento de uma nova era de concorrência entre as grandes potências em que se destacam, além da China, os Estados Unidos, a Rússia e a União Europeia. Deixando para trás a fase da globalização anteriormente hegemonizada pelos países ocidentais, não é somente a China que emerge nesse novo panorama global. A Rússia tem se projetado pelo seu grande poder militar e presença em lugares distantes de suas fronteiras como o Irã, o Iraque, a Síria e o Líbano. Esse cenário multipolar coloca novos desafios para países emergentes como o Brasil que se veem diante de uma clara disputa hegemônica entre Estados Unidos e China. Como a disputa entre as superpotências é fundamentalmente comercial, buscando ampliar mercados para colocação de seus produtos industrializados, diminui a possibilidade de que os países emergentes possam construir uma base industrial que possa competir com essas potências, em particular com os chineses que a cada dia se configuram como os maiores produtores de bens industriais do planeta. Para o desgosto dos nacionalistas, que por décadas priorizaram a industrialização, os países emergentes deverão aumentar a exportação de produtos agrícolas, explorar recursos naturais e culturais através do turismo e incrementar o setor de serviços, o qual depende em sua maioria, de mão de obra mais qualificada. Nesse contexto o turismo ocupa um lugar privilegiado. O rápido crescimento das classes médias nas economias emergentes transformará radicalmente a indústria turística em termos globais durante as próximas décadas. A previsão estimada pela Organização Mundial de Turismo (OMT) de chegada de viajantes internacionais para 2030 é de 1,8 bilhões de pessoas. No ano de 2018 1,4 bilhões de viajantes internacionais chegaram ao seu destino, 6% a mais que no ano interior, uma cifra que foi alcançada dois anos antes do previsto pela OMT. Esse movimento de turistas constitui o maior deslocamento de seres humanos na história da humanidade. Com bilhões de viagens internacionais o problema não está tanto na demanda, mas na oferta. Para onde irão esses bilhões de pessoas a cada ano? Formam um público que não gosta de repetir a visita a lugares e estão em constante movimento buscando diversidade de atrações. Bem administrado o turismo representa capital valioso para qualquer país, região ou cidade pois sua dinâmica provoca transformações positivas com a boa gestão dos ativos existentes - bens culturais e naturais. O Brasil tem um dos maiores potenciais turísticos do planeta, mas tem uma longa história de má gestão. O Ministério do Turismo deveria ser o principal articulador de uma política turística eficiente, mas não cumpre a função para o qual foi criado, servindo há tempos para abrigar aliados políticos do bloco dominante no poder. Com Jair Bolsonaro não está sendo diferente. O Ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio, em seus quatro meses à frente da pasta tem sido alvo de várias acusações. Está envolvido no caso das candidaturas laranjas utilizadas para direcionar verbas públicas de campanha à empresas ligadas ao seu gabinete na Câmara. Pelo que se tem noticiado, o esquema envolvia o lançamento de candidatura de fachada, com a simulação da campanha, mas sem a busca de votos. Investigado pela Polícia Federal e o Ministério Público e sofrendo acusações que se avolumam a cada dia, o Ministro do Turismo está cada vez mais enfraquecido. Aparentemente seu destino está selado, faltando tão somente a oportunidade para que seja defenestrado do cargo. Os sinais para esse setor dinâmico da economia não são alentadores. Um setor que poderia contribuir para aumentar os postos de trabalho, dinamizar regiões abandonadas, valorizar a cultura nacional e implementar mudanças positivas na imagem do Brasil no exterior está sendo marginalizado dando continuidade à prática que vem de anos e mostra baixo entendimento das mudanças que estão em curso no mundo. Caminhamos em sentido contrário, enquanto crescem os investimentos em turismo em diversas partes, continuamos a ver esse setor como secundário na economia. O turismo é só mais um exemplo de como o nacional-populismo que se instalou no país é incapaz de compreender as mudanças em curso, todas lastreadas pela crescente globalização. Essa corrente político-ideológica volta-se para o passado, convergindo políticas que idealizam um mundo que deixou de existir e mostra-se incapaz de compreender o futuro. Sua ideologia extremamente conservadora não está exatamente trazendo a ordem que tanto apregoa, nem em suas hostes que se digladiam constantemente fazendo oposição a si mesmo. Não traz também o progresso que implica em compreender e aceitar mudanças inevitáveis na política, na economia e no social. A expectativa de crescimento vai rapidamente cedendo lugar à perspectiva de estagnação por mais algum tempo. Até quando não se sabe.