JOGO RÁPIDO

O melhor de todos

Coluna publicada na edição de 24/10/18 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
24/10/2018 às 03:00.
Atualizado em 06/04/2022 às 01:04

Tenho dois sobrinhos e uma sobrinha que são músicos, um melhor do que o outro. Tiago e Lídia trabalham em Curitiba e Mateus, irmão gêmeo de Tiago, mora na pequena Senigália, cidade italiana com pouco mais de 40 mil habitantes, na região de Ancona. Outro dia Mateus fez um comentário no Facebook sobre pessoas que mudam de música na metade. Moises, meu filho de 13 anos (e baterista desde os 5) é um desses. Mateus, de 36, mandou um áudio para ele, provavelmente explicando a importância — principalmente para músicos — de ouvir as canções até o final. Fiz um comentário no post de Mateus. Lembrei que na minha época de garoto era bem mais complicado trocar de música, avançando a fita ou erguendo o braço da vitrola até outra faixa do LP. Às vezes também era preciso virar fita ou o disco. Hoje tudo é feito para ser mais rápido. O YouTube já nos mostra outros vídeos antes mesmo de terminarmos de ver o primeiro. No celular, é muito fácil escolher a próxima música. Um toque e pronto. É possível localizar qualquer uma rapidamente, mesmo que você tenha mais de mil músicas no seu dispositivo. No esporte, essa velocidade toda também existe. Há quanto tempo ouvimos falar que tal jogador é o “novo Messi”? A expressão existe desde quando o próprio argentino ainda era jovem. Ele estava apenas começando e jornalistas e torcedores já estavam à procura do próximo, como se fosse a música seguinte. Hoje ficamos sabendo imediatamente quando um craque faz uma grande jogada, um gol maravilhoso, uma tatuagem nova, quando termina o namoro ou participa de algum comercial. Suas estatísticas estão à disposição, com atualização online, assim como os replays de seus gols. É muita informação, de acesso fácil e rápido. E a garotada que consome tudo isso acha mesmo que logo vai aparecer um novo Cristiano Ronaldo, que Vinícius Júnior será o novo Neymar e que Messi é o melhor de todos os tempos. E que alguém ainda melhor surgirá amanhã ou depois. Não vai surgir. O melhor jogador de futebol da história comemorou 78 anos ontem. E é improvável que surja outro parecido nas próximas décadas. "O maior jogador de todos os tempos comemora mais um ano da vida mais gloriosa que o esporte bretão já conheceu. A única coisa que podemos dizer é obrigado. A história do futebol tem muitas versões, muitos capítulos. Mas em todos, há uma certeza: só existe um Rei do Futebol”, escreveu a CBF em seu site. A afirmação é incontestável. O príncipe que estreou no profissional do Santos aos 15 anos se transformou em rei ao ganhar três Copas do Mundo, duas Libertadores, dois Mundiais de Clubes e dez paulistas. Marcou inacreditáveis 1.286 gols nos 1.367 jogos que disputou. Pelé foi uma máquina de jogar futebol. Seu corpo era uma mistura de grandes doses de força e técnica. Completo, finalizava com invejável precisão com os dois pés e era um exímio cabeceador. Não é justo com outros gênios do futebol fazer comparações. Ronaldo não sabia cabecear. Messi e CR7 nunca marcaram um gol depois da 1ª fase em Copas. Maradona tem um Mundial e 353 gols. Não há tecnologia nem velocidade que façam de Pelé um jogador como outro grande craque qualquer. E os vídeos de seus gols merecem ser vistos do início ao fim, sem pressa, como se fossem grandes clássicos do rock nos anos 70. Não pule uma boa música esperando que a próxima seja melhor. E não acredite quando alguém disser que fulano é o “novo Pelé”. Parabéns, Rei. Você é único.

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