ENTREVISTA

O medo que nos impede de avançar

Escritor e conferencista fala dos bloqueios que impomos a nós mesmos e da importância de nos mantermos ativos e abertos às oportunidades para realizar sonhos

Crislaine Coscarelli
09/06/2013 às 05:07.
Atualizado em 25/04/2022 às 13:12

Quantas vezes você já se sentiu desanimado, achando a vida sem graça? Em dias assim, até sair da cama é uma tarefa árdua. Mas, já parou para pensar que, em muitos casos, nós mesmos nos colocamos em situações que geram insatisfação? Se a vida está desse jeito pode ser porque você não faz o que gosta nem tem o que o desafie. O medo de arriscar e fracassar numa nova carreira ou na busca por um desejo pessoal nos bloqueia e impede de avançar. “Mantemos certas insatisfações em nome de uma ‘segurança’ que não é verdadeira e nos rouba sonhos”, diz o consultor organizacional e especialista em desenvolvimento de competências de liderança Eduardo Shinyashiki, que também é conferencista nacional e internacional e autor de vários livros. O especialista esteve em Campinas no dia 25 de maio para palestrar em evento voltado ao desenvolvimento de carreiras realizado pelo IBE-FGV.

Shinyashiki afirma que as transformações da sociedade acontecem independentemente de nossa vontade, e cada vez mais rápido. Por isso, quando o indivíduo passa a acreditar que a posição em que está é o mais longe que pode chegar, acomoda-se e passa a perder. “Muitas vezes, somos inimigos de nós mesmos, escondendo nossos pontos fracos, com medo ou vergonha. É importante termos plena consciência deles e trabalhar para melhorá-los. O primeiro grande desafio é definir quem lidera nossa vida: nós ou nossos medos.”

Metrópole – O que é preciso para vencer desafios pessoais e profissionais?

Eduardo Shinyashiki – Para vencer desafios e construir o futuro, devemos saber lidar com os obstáculos de forma confiante, eficaz e realizadora, mantendo o foco e a direção. Nesse caminho, temos de estar conscientes de nossas potencialidades e comprometidos em transformar capacidade em poder realizador, assumindo a responsabilidade pelo sucesso e pelos resultados. Quando desenvolvemos a capacidade de criar um espaço de realização e estamos comprometidos com posturas e ações que resultem em cooperação, integração e motivação, nos sentimos confiantes e com coragem para andar por onde outros não andaram. Aí, expandimos as estratégias para atingir metas e transformar intenções em resultados duradouros.

Quais são as maiores barreiras no mundo corporativo contemporâneo?

A maior é a postura do profissional. Costumo dizer que há dois tipos de posturas: a da pessoa que fala de problemas e não se compromete com o futuro e a da que fala do futuro que escolhe viver e sabe que terá desafios. Muitas vezes, somos inimigos de nós mesmos, escondendo nossos pontos fracos a todo custo, com medo ou vergonha. É importante termos plena consciência deles e trabalhar para melhorá-los. O primeiro grande desafio é definir quem lidera nossa vida: nós ou nossos medos.

O mercado de trabalho gera uma série de incertezas. É daí que vêm os medos?

Palavras como incerteza, insegurança, processos de readaptação, risco e complexidade tornaram-se frequentes na sociedade e provocam medo nas pessoas. Por vezes, mantemos certas insatisfações em nome de uma “segurança” que não é verdadeira e nos rouba os sonhos. Os indivíduos sentem-se seguros, mas de quê? Não há zonas de conforto e de segurança. São, basicamente, ilusões da vida. Nesse contexto, muitos aceitam menos do que merecem e se tornam uma sombra do que poderiam ser. Deixam de avançar não por serem incompetentes, mas por não se permitirem brilhar.

Qual o primeiro passo para vencer esses medos?

Sair da zona de conforto e desenvolver a flexibilidade, porque é por meio dela que imaginamos soluções diferentes e inovadoras e as experimentamos agindo. Escolhas corajosas nos levam aonde devemos estar. Às vezes, em vez de mudarmos a forma de caminhar quando encontramos obstáculos, mudamos nossa meta, fugimos de nosso caminho e nos distanciamos de nosso objetivo. Não podemos nos esquecer da necessidade de sermos flexíveis e perseverantes na realização de nossos sonhos. Devemos ter em mente a importância de negociar com nós mesmos para chegar ao objetivo, não desistir dele. Às vezes, a falta de perseverança aumenta a teimosia e o orgulho. Por exemplo, uma pessoa perseverante suporta a decisão tomada porque tem consciência do compromisso com o resultado e a realidade desejada e possui uma atitude flexível para encontrar a melhor alternativa; o teimoso suporta a decisão apenas porque ele a tomou.

Por que, em geral, as pessoas são avessas a mudanças?

É estranho. Isso não deveria acontecer, pois a mudança nos acompanha desde o nascimento. Então, nos perguntamos por que há paralisia e frio na barriga quando a vida nos exige um novo caminho? O que nos faz bloquear atitudes? Seria medo de falhar, de não saber lidar com a insegurança e cometer os mesmos erros? A mudança não é algo linear, definido, mas um processo de adaptação e aprendizagem, em que crenças são questionadas e situações conhecidas, frequentemente transformadas, desequilibrando nossas ilusórias estabilidade e segurança. Já parou para refletir o que é a coragem? É a energia que se desenvolve dentro de nós para enfrentar o medo. Ter isso em mente ao tomar as atitudes ajuda no processo de transformação. Se as mudanças nos confirmam que tudo tem um tempo finito, diante delas precisamos adotar uma postura adequada para estarmos abertos a acolhê-las. Só assim enxergaremos as novas possibilidades daquela situação, estimulando a mobilidade mental.

Que atitudes nos ajudam a continuar avançando?

É preciso estar atento às oportunidades. As transformações acontecem cada vez mais rápido e, quando o indivíduo passa a acreditar que aquela posição é o mais longe que pode chegar, acomoda-se e passa a perder. É importante desligar o automático e desenvolver novas habilidades sempre. Acomodar-se é acovardar-se.

Que conselho o senhor dá aos jovens em início de carreira?

O conselho é o mesmo para quem está no começo e no meio da carreira ou, ainda, para um CEO (do inglês, chief executive officer): substitua a autocrítica pela autocompreensão. Na maioria das vezes, a autocrítica não é positiva. É necessário um diálogo interno para conhecer seus pontos fracos, mas de modo positivista, de quem tenta melhorar, não de quem se acha incapaz. Acredite no seu poder pessoal e foque em seus sonhos. Eles vão acontecer, mas agora você tem de fazer algo para encomendá-los ao universo, para que eles existam na sua vida em breve. Hoje é o dia que define seu amanhã e é, também, o momento de viver o presente. Já parou para pensar que não é a quantidade de horas trabalhadas que importa, mas se o projeto faz você viver com prazer e realização? Não é com quem se relaciona, mas como faz isso e o que gera para você e os envolvidos? Para alcançar os sonhos e deixar de lado o que nos aborrece e não nos serve, precisamos desmascarar as falsas seguranças que os hábitos nos propiciam e sobre as quais construímos nossa vida. É preciso estar desperto para as mudanças e não se acomodar. Há uma frase de Alvin Tofler (escritor e futurista norte-americano, doutor em letras, leis e ciência, conhecido por seus escritos sobre revolução digital, revolução das comunicações e singularidade tecnológica) que descreve bem isso: “Os analfabetos do próximo século não são aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que se recusam a aprender, reaprender e voltar a aprender”.

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