O resultado da última eleição presidencial na Venezuela deu vitória a Nicolas Maduro que obteve, segundo dados oficiais, quase seis milhões de votos num total de 8,6 milhões de pessoas aptas a votar. O organismo eleitoral venezuelano anunciou que a porcentagem de participação atingiu 46%. A abstenção foi recorde e alcançou 62% do eleitorado. Projeções independentes, como do Grupo de Lima, afirmam que a abstenção foi ainda mais significativa, superando 80%. À abstenção massiva se somaram inúmeras irregularidades. A mais ostensiva foi realizada por simpatizantes de Maduro que instalaram pontos vermelhos em inúmeros centros de votação onde os eleitores deveriam apresentar a Carteira da Pátria, uma espécie de carnê que garante ao portador obter benefícios sociais como cestas básicas e atendimento médio. Para atrair eleitores foi prometido pelo governo o pagamento de um bônus aos que apresentassem o documento nos pontos vermelhos. Caminhões e ônibus do governo federal transportaram votantes até os postos eleitorais. Todas essas práticas contrariam a legislação eleitoral. O Grupo de Lima formado por Argentina Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia emitiu comunicado conjunto não reconhecendo a legitimidade das eleições presidenciais e, consequentemente, chamando para consultas os seus embaixadores em Caracas. Resolveram ainda reduzir as relações diplomáticas com o país e convocar os representantes diplomáticas venezuelanos nas 14 capitais dos signatários do documento. No documento do Grupo de Lima o bloco de países reitera “sua preocupação com o aprofundamento da crise política, econômica, social e humanitária que deteriorou a vida na Venezuela, o que se reflete na migração em massa de venezuelanos que chegam a nossos países em condições difíceis, na perda de instituições democráticas, do estado de direito e na falta de garantias e liberdades políticas dos cidadãos" O resultado das eleições mostra que a tragédia venezuelana não dá sinais de superação. A vitória fraudulenta de Maduro mostra mais uma vez o desmonte das estruturas democráticas. Em um processo convocado de forma ilegítima e antecipada, impedindo a participação da oposição por diversos mecanismos e com a prisão das principais lideranças oposicionistas o resultado é o aprofundamento do caráter autoritário do regime. A ampla pressão internacional não foi suficiente para impedir o aprofundamento da crise venezuelana e este é o momento em que emerge a necessidade de avanço da diplomacia para impedir a permanência de uma crise humanitária sem precedentes no continente americano. Neste contexto, não se pode continuar ignorando que o regime de Nicolas Maduro tem suporte internacional de um grupo de países que lhe dão respaldo financeiro e apoio político. A China e a Rússia são os principais países que dão sustentação ao regime venezuelano através de empréstimos e de apoio político no plano internacional. Esses dois países integram o Conselho de Segurança das Nações Unidas e não permitem que passe nenhuma condenação do organismo internacional à Venezuela. O Irã é outro país que tem interesses estratégicos na Venezuela possuindo acordos com a indústria militar do país. Esses aliados de Maduro sustentam programas de capacitação das Forças Armadas Venezuelanas, reforçados pela presença ativa de milhares de efetivos cubanos. Nesse cenário o isolamento da Venezuela na América Latina, exceto pelos apoios que recebe de Cuba, Nicarágua e Bolívia, deve ser visto com cuidado, pois seu significado pode ser relativo. Pois é muito difícil pensar numa saída diplomática da crise venezuelana sem levar em consideração as ligações externas do regime de Maduro com países que possuem interesses geopolíticos e que tem contribuído para a destruição dos mecanismos democráticos da Venezuela. Para ser eficaz a pressão diplomática internacional deve ser ampliada e atingir, de alguma forma, os países que dão sustentação ao regime Maduro pois a questão venezuelana está contaminada pela disputa geopolítica global envolvendo Rússia, China e Irã. Somente com a participação desses países numa negociação poderá ser superada a crise no país vizinho. O Brasil, por exemplo, poderia abrir canais de diálogo com a Rússia e a China através do BRICS do qual ambos os países fazem parte. Nesse particular a China pode ter um papel primordial já que tem relações econômicas significativas com as principais econômicas latino-americanas. Depois do pleito fraudulento do último dia 20 de maio fica claro que a crise humanitária terá continuidade e certamente se ampliará levando a outros países latino-americanos parte da população venezuelana numa dispersão semelhante à de países em guerra. Segundo a Organização Internacional para as Migrações(OIM), a continuidade do chavismo pode fazer com que 34,7% dos venezuelanos abandonem o país. Segundo o Instituto de pesquisas Datanalisis, em dois ou três anos terão deixado a Venezuela 20% de sua população, o que significa 6 dos 30 milhões de atuais habitantes. Deve-se levar em consideração que muitos dos imigrantes que fogem do país são profissionais altamente capacitados o que tornará ainda mais difícil a recuperação da Venezuela após um eventual novo regime político pós-Maduro. Esse Estado falido deverá espalhar seus problemas para os demais países da região caso não se encontre uma solução para a crise pluridimensional – econômica, política, social e humanitária – em que se encontra.