Caro leitor, para transformar a (uma) sociedade, é necessário conhecê-la. A sociedade brasileira é um caso único no mundo. Não por acaso, nós mesmos nos apelidamos de o país jabuticaba, uma fruta que dizem só nascer aqui.Fomos conquistados, massacrados, humilhados. Roubaram todo o ouro de nossa terra. Trouxeram escravos do continente africano; e quando fomos o último país a abolir a escravidão e dar as costas para os negros, importamos os imigrantes europeus que vinham de lá para escapar da guerra e da fome. Somos um país de “milagres”: o milagre do ouro, o milagre do café, o milagre econômico, o milagre do pré-sal. Em 1950, perdemos em casa a Copa, jogando pelo empate. Freud já explicou a recorrência dos fracassos e como isso fica na memória coletiva.Fomos o último país a sair da ditadura. E apesar de termos hoje uma constituição de grande valor e uma democracia que realmente funciona, esse País não vai para frente. Recentemente, comentei com pessoas próximas que não eu não acreditava mais nesse País: todo o esforço correto que o governo fez em termos econômicos não estava e não está ainda dando certo. O capitalismo não perdoa o protecionismo. Passa por cima, atropelando. Nos preocupamos tanto com o PIB, que é um indicador econômico, que nos esquecemos de outras coisas muito mais importantes, como por exemplo, o endividamento da população, que apesar de ser algo relacionado à economia, é muito mais alarmante, na medida em que é sintoma e reflexo de uma sociedade que nunca teve nada e que agora desfruta poder querer tudo.Somos o País de um só movimento, o movimento da inércia — aquele que todo corpo que está em movimento tende a continuar.Vamos mudar! Precisamos mudar! Vamos mudar nosso hino de guerra. O hino de guerra é para ser entoado antes de uma batalha ou após uma vitória. É para ser sentido, respirado, entendido. Esse Hino Nacional que está aí hoje é incompreensível para a maior parte de nossa população de analfabetos funcionais. Parece que foi feito para não entendê-lo. Vamos tirar o “Ordem e Progresso” da nossa bandeira. Essas palavras, de cunho positivista, serviram na ditadura. Hoje, já não valem mais. Vamos declarar o fim da obrigatoriedade do voto! Vamos lutar pela educação de nosso País. Ela sim tem o poder transformador. Vamos lembrar de Pelé quando fez seu milésimo gol pedindo para pensarmos nas criancinhas do Brasil. Ah, se tivéssemos feito algo...Bem já escreveu Roberto DaMatta a respeito de nós em seu livro "Carnaval, Malandros e Heróis". Somos o País do “sabe com quem você está falando!?”. Não sabemos com quem estamos falando, muito menos que sociedade é esta. E isso é o pré-requisito para transformá-la. Recorro-me a Lenin, que se perguntou o que fazer.