JOGO RÁPIDO

O grande erro de Bernardinho

Coluna publicada na edição de 31/3/19 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
31/03/2019 às 01:00.
Atualizado em 04/04/2022 às 19:50

Na terça-feira, o técnico Bernardinho se envolveu em uma “polêmica”. Durante a derrota do seu Sesc-RJ para o Sesi-Bauru, o 11 vezes campeão da Superliga se irritou ao sofrer um ponto marcado pela atacante transexual Tiffany. “Um homem. É f...”, desabafou Bernardinho com seus companheiros de comissão técnica. A fala foi registrada pela TV e teve enorme repercussão. Bernardinho então divulgou uma nota, na qual explicou sua reação e pediu desculpas ao adversário. “Me referia ao gesto técnico e ao controle físico que ela tem, comum aos jogadores do masculino e que a maior parte das jogadoras não tem. À Tiffany dou meus parabéns pela grande atuação e conquista e a todos que se sentiram ofendidos reitero minhas desculpas”, diz trecho da nota do treinador do Sesc, que foi eliminado da Superliga justamente nessa partida. O grande erro de Bernardinho foi ter pedido desculpas. Ícone do vôlei mundial, perdeu grande oportunidade de sair em defesa das jogadoras. Não se trata, em nenhuma hipótese, de preconceito. Se Rodrigo quer ser Tiffany, ter cabelos longos e fazer cirurgias, ninguém tem nada a ver com isso. Mas se Rodrigo decide ganhar a vida como atleta, suas preferências não podem lhe dar o direito de competir com mulheres. Em nome do politicamente correto, federações de várias modalidades autorizaram a inscrição de trans em competições femininas. Temos homens massacrando mulheres em lutas, no basquete, no handebol, no atletismo, no levantamento de peso e em outros tantos esportes. São mais fortes, mais rápidos e possuem habilidades específicas, como notou Bernardinho. O jogador do Sesi se defendeu com um ponto de vista que deixa claro como essa mistura é injusta. “Nós aprendemos movimentos masculinos que as mulheres não aprendem”, disse Tiffany. É evidente que não se trata de uma capacidade excepcional a ser admirada pelo mundo do esporte. Tiffany não faz certas coisas por ser dedicada e ter alta capacidade de aprendizado. Tiffany faz isso porque é Rodrigo, ex-jogador de vôlei profissional masculino. Tiffany aproveitou para criticar Ana Paula, medalhista de bronze pelo Brasil na Olimpíada de Atlanta-1996. A ex-jogadora é uma ferrenha defensora das atletas. Ela se posiciona e critica a presença de homens em torneios femininos. Exemplo que deveria ser seguido por Bernardinho. Sem ter como contestar a coerente posição da medalhista, Tiffany partiu para a ofensa. Disse que Ana Paula é homofóbica e que ela “não existe”. Ana não só existe, como pensa como a maioria dos profissionais do vôlei e de outros esportes. Ela só não é covarde. Com a experiência de quem esteve em quadra durante décadas, Ana Paula expõe de forma clara os motivos pelos quais homens jamais deveriam ter a permissão para enfrentar mulheres. É injusto, desonesto e, se nada mudar, no futuro essa aberração vai custar às mulheres vagas nos grandes times e nas seleções das mais diversas modalidades. Treinadores covardes sempre vão preferir “mulheres” que fazem coisas que só homens são capazes de realizar.

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