Sábado à noite. Restaurante lotado. Fila de espera. Um dos garçons está em casa, doente. O outro, que naturalmente já é mal humorado, hoje está pior. A cozinha está confusa. O dono do estabelecimento resolve problemas pessoais. Fornecedores aguardam uma autorização para descarregar a mercadoria. Os entregadores olham desesperadamente para o relógio enquanto esperam os pratos do delivery ficarem prontos. Os pedidos se acumulam. As pessoas estão insatisfeitas. E com fome. E sede também. Nada dá certo. Acho que você já visualizou a cena, não?
A clientela toda clama por atenção. Alguns querem reclamar, outros apenas fazer o pedido, nem que for um simples couvert. Menos um, um cara que chegara cedo e até já jantara. Ele também acena e chama o garçom, mas não para pedir a sobremesa ou o café:
– Garçom. Ei... Garçom. Garçom!
Em meio aquele caos todo e sabendo que o tal cliente já está de barriga cheia, o garçom não dá ouvidos e segue seu caminho. O homem insiste:
– Ô, garçom! Garçom. Olha pra mim, garçom! Caramba...
Tudo em vão. O garçom finge que não ouve e continua rodopiando pelo salão. Azar o dele, porque nesse instante outro cliente, que já havia bebido – e muito –, mas não comido, caminha com um ar ameaçador em direção ao funcionário do restaurante, que está de costas.
A cada passo torto que dá o bêbado está perigosamente mais próximo do garçom. Este, distraído, não percebe a aproximação do cliente. E muito menos sabe de suas intenções.
Quando o garçom encosta no balcão para fazer uma anotação, o bêbado para atrás dele e deixa a mão cair sobre o seu ombro. Irritado, o atendente se vira para o cliente, pronto para xingá-lo, como costuma fazer sempre que alguém o encosta. Mas dessa vez ele não consegue manter a tradição.
Mal o garçom gira o corpo para ficar frente a frente com o homem que o seguia, e é esfaqueado diversas vezes com a faquinha do pão, que tinha ido para a mesa do cliente sem o pão e sem a manteiga.
O homem que já havia jantado, bem que tentara avisar o garçom, mas este não dera ouvidos. Agora é tarde, o pobre assalariado está morto. E os clientes continuam com fome. E sede também.