Futebol é contato, dizem alguns entendidos no assunto. Ingleses não gostam de esbarrar uns aos outros; ingleses difundiram o futebol que conhecemos e chamamos de moderno e vivem se esbarrando uns aos outros dentro de campo. Na rua, no trabalho, no metrô e lotações ingleses eles procuram o máximo não tocar no próximo; namorados e namoradas também não se tocam em público – e alguns turistas dizem que eles não se tocam nem no escurinho do cinema; mas basta uma cerveja e futebol para que todos se irmanem e se abracem.O futebol inglês é jogado com músculos e táticas. O Brasil joga futebol com malandragem e muita firula; e também com pipocas doces e salgadas, as quais abomino, ambas, e também o tal futebol assim adjetivado. Mas é da natureza estúpida do futebol achar que malandragem ganha jogo e define a razão de ser de um time. E se existe uma coisa que não existe no futebol é o malandro otário. Futebol não é para otário; e todos os boleiros são malandros e otários fingidores. Uns mais, outros pouco menos – mas todos o mais do mesmo.Os poucos e raros técnicos que dominam tal ciência sabem lidar com tais atores e conseguem dirigir um bom grupo de teatro. E aqui não citarei nomes para não torrar a paciência do raro leitor. Mas também não me alongarei para chegar ao drama que o volante Ferrugem está vivendo.Futebol é contato. Jogar é aproveitar o corpo do adversário para se equilibrar e sair com a bola dominada. O atacante Danielzinho quis o contato com a bola, sempre ela, errou o carinho (e não o carrinho) e o que era para ser apenas mais um lance de futebol virou um ato violento. Ferrugem e Danielzinho não queriam nada disso. Ambos desejavam apenas continuar jogando bola, terminar a partida e seguir para suas casas. O árbitro, Luiz Vanderlei Martinucho, não respeitou a regra e aplicou apenas o cartão amarelo no infrator. Ferrugem teve o tornozelo quebrado e deverá ficar meses sem fazer o que mais gosta e sabe: jogar futebol. Danielzinho seguirá a sua equipe; e o árbitro será escalado para mediar outros jogos.Futebol é contato. Futebol é a vontade de um tirar a bola do outro. Danielzinho não queria machucar ninguém; e Ferrugem apenas queria dominar a bola e seguir adiante. Mas há um limite para o que não se deseja ser punido pela negligência cometida. E se alguém errou ali foi o árbitro que não observou uma das regras básicas do futebol, usando apenas uma cortina amarela para atrás dela esconder sua frustração de entrar em campo somente para acompanhar uma bola que jamais poderá chutar para fazer um passe, uma firula, um gol. Um ator que não sabe nada de bola e da emoção de correr atrás dela.Futebol é contato. Pelé já quebrou perna de adversário e cotovelada já faz parte do cotidiano do futebol. E não me surpreenderia se daqui há alguns anos os nossos estádios se transformassem em gramados octogonais. Árbitros já temos. Aos montes.