ZEZA AMARAL

O futebol que eles entendem

Zeza Amaral
zeza@rac.com.br
25/02/2013 às 22:03.
Atualizado em 26/04/2022 às 03:15

Adenor Leonardo Bacchi é o nome do treinador do Sport Clube Corinthians, conhecido como Tite. Era para mim um dos melhores técnicos de futebol do mundo. Não é mais. Não pelo menos o técnico de futebol de jovens jogadores que chegam as suas mãos, para treiná-los e prepará-los para a curta vida de um profissional da bola, ensiná-los não apenas a respeitar a disciplina e as regras do esporte como conscientizá-los do papel social que desempenharão no imaginário popular de crianças, jovens e adultos. É a função de qualquer técnico esportivo, assim como de qualquer professor, de quaisquer pais e, principalmente, de políticos e servidores públicos.

É chato ser didático e bem sei o quanto é chato repisar o que sabemos ser o correto politicamente para que a sociedade siga buscando a harmonia entre seus pares. É assim em qualquer esporte e, sobretudo, no dia a dia de qualquer vivente. Mas tudo está errado quando alguém morre dentro de um estádio de futebol por conta de um ato estúpido que muitos, como o técnico Tite, consideraram uma fatalidade. O fato é que um menino torcedor boliviano morreu porque um torcedor brasileiro o acertou com o disparo de um sinalizador marítimo – que lança um projétil plástico a quase 300 quilômetros por hora.

Sabemos que a vítima é um menino de apenas 14 anos e, agora, que o presumido autor é um jovem de 17 anos, H.A.M., que, nesta segunda, se apresentou à Justiça na Vara de Infância e da Juventude de Guarulhos. O nome da vítima é Kevin Douglas Beltrán Espada; enquanto o assassino é identificado por uma sopa de letrinhas.

A Fifa está silenciosa. A CBF está silenciosa. E a Conmenbol é dirigida desde 1986 pelo mesmo presidente Nicolás Leoz que, segundo ele, só sairá da presidência quando quiser. É um dos maiores cartolas do futebol mundial que a Fifa protege porque detém poderes políticos no futebol latino-americano. Sim, Leoz também foi íntimo parceiro e amigo dos ditadores da América do Sul; e também de seus próprios: Ricardo Teixeira. E o assunto é tão pútrido que paro por aqui.

A morte do menino Kevin tem vários comparsas. E Tite parece um idiota quando diz que trocaria o seu título de campeão mundial pela vida do menino assassinado, como se tal coisa fosse possível. Melhor faria se dissesse que tiraria o seu time da competição e, caso a diretoria corintiana se negasse a tanto, renunciaria ao cargo. Ficou apenas no tudo do mesmo: uma fita preta nos braços dos jogadores; e um jovem bode expiatório apareceu para assumir as responsabilidades de todos os cartolas – assassinos morais, esse é o nome da coisa – que dominam o futebol do nosso Continente.

No mais, o futebol segue, como na Ponte Preta, com jogadores entrando de salto alto e meião de lingerie: como se o futebol não fosse algo muito mais sério, uma atividade que dá conforto emocional para bilhões de torcedores e que movimenta milhões de empregos e tantos bilhões de dinheiro. Não sei bem em que continente habito; e talvez nem os profissionais da bola saibam.

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