Vivemos sempre entre o fio da navalha e o fio do bigode, amigos boleiros. E a razão é simples: se a vida não está fácil para ninguém, o mundo fica melhor toda vez que encontramos sobre os nossos ombros aquele pequeno cisco de boa convivência, uma linha quase invisível entre o que se pede e o que se pode fazer diante de cada novo problema enfrentado. Por isso, não são poucos os que preferem a informalidade do fio do bigode à firma reconhecida do fio da navalha, num duelo que encontra no futebol a sua mais notória contradição.O técnico Felipão, até pelo adereço gritante que preserva acima dos lábios sempre irrequietos, é a expressão máxima do fio do bigode. Um parêntese: dizem que a palavra bigode é uma variação do alemão "bi Gott", ou "por Deus", e por muito tempo era a senha para consolidar um contrato das mais variadas naturezas. O comandante da Seleção Brasileira, que tem muito mais de português do que alemão, sabe muito bem o que isso significa e prefere sempre seguir o conceito de grupo do que o de equipe — a diferença de um para outro está na unidade, na junção de peças específicas para compor uma engrenagem funcional e eficiente.Os melhores nem sempre estão na lista de Felipão, mas ele terá sempre o melhor dos que convoca. É, mais uma vez, por causa do fio do bigode, da maneira com a qual lida com seus comandados.O que disse sobre o goleiro Julio Cesar diante das cobranças de uma sala de imprensa abarrotada não deixa dúvidas sobre como e o que pensa Felipão. Se os deveres do cargo exigem que tenha critérios técnicos para escolher a lista de convocados a cada compromisso, fica evidente que o comportamento (e, claro, o comprometimento) de cada candidato valerá muito no final das contas.Felipão quer, como a maioria de nós, ter pessoas de confiança ao lado. Pessoas e/ou atletas que, embora em diferentes condições, se igualam na conduta ao entrar em campo. Ninguém vive na sombra da estabilidade quando se está diante de um bigode tão legítimo como o de Felipão.Julio Cesar, mesmo com pouco espaço no mercado e menosprezado na última janela de transferências da Europa, foi o primeiro a pinçar uma vaga na Copa do Mundo do ano que vem. Não porque tem feito milagres em campo, mas porque é um homem de cara limpa, muito longe do fio da navalha, e com o fio do bigode acima de todas as coisas.