JOGO RÁPIDO

O fator casa

Coluna publicada na edição de 6/8/16 do Correio Popular

06/08/2016 às 06:00.
Atualizado em 22/04/2022 às 23:07

Competir em casa, diante de sua torcida e com outros fatores favoráveis (clima, proximidade de casa, conhecimento do local das provas, etc) é uma vantagem considerável no esporte. Isso é inegável e as estatísticas estão aí, em qualquer modalidade, para comprovar. No caso dos Jogos Olímpicos, esse é um dos fatores que contribuem para a melhor performance do país-sede. Nos últimos 60 anos, o país da casa ganhou em média 13 medalhas a mais do que obteve na Olimpíada anterior. Mais uma vez, os números não deixam dúvida. O brasileiro adora esporte e joga junto. É uma torcida vibrante, que motiva seu atleta, sua equipe. E também faz o que está a seu alcance para causar o maior desconforto possível aos visitantes. “Os torcedores eram tão apaixonados e barulhentos, gritavam, tocavam tambores. Lembro que durante o tempo técnico o barulho era tão alto que eu não conseguia ouvir nem meus pensamentos”, disse à Folha a norte-americana Christa Dietzen, citando a primeira vez que atuou no País, em São Bernardo do Campo, no Grand Prix de 2012. No Rio será ainda melhor (ou pior, do ponto de vista das outras delegações). Tudo isso é positivo, mas acho muito provável que em algumas modalidades o ‘fator casa’ mais atrapalhe do que ajude os brasileiros. Isso deve acontecer porque, assim como o torcedor, o atleta brasileiro também é emotivo. Muitas vezes essa sintonia com o público é positiva, mas alguns perdem concentração e performance, tamanha a vontade de presentear um público tão especial com a vitória, com a medalha de ouro. A ginástica tem um caso clássico. Diego Hypólito foi bicampeão mundial do solo. Superou os melhores do planeta em diversas ocasiões, mas o ginasta que se mostra imbatível em várias competições aparenta ser um novato mediano quando disputa uma Olimpíada, competição na qual todos os brasileiros esperam dele o ouro. Favoritíssimo nos Jogos de Pequim-2008, ele caiu na prova de solo e ficou em 6º lugar. Em Mundiais, ele tem três medalhas (duas de ouro e uma de bronze). No Rio, vai dar seu máximo para conquistar a primeira olímpica. A torcida vai — tentar — ajudá-lo. “A vibração faz você se sentir poderoso, como se pudesse fazer qualquer coisa”, afirma outro destaque da ginástica, o campineiro Arthur Nory. Tomara que seja assim mesmo, com todos os brasileiros. Mas é certo que muitos técnicos estão trabalhando exaustivamente para impedir que a enorme vontade de vencer em casa não prejudique seus atletas. A torcida vai empurrar como nunca. E nossos atletas terão que lidar com uma pressão inédita em suas carreiras.

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