Neste 26 de maio ocorrem as eleições para o Parlamento Europeu. Essas eleições assumem uma importância crucial para o futuro da União Europeia (UE) que tem sua razão de existir nos valores como o respeito à dignidade humana, a liberdade, a democracia, a igualdade e os direitos humanos. Uma Europa de ideal progressista e solidário. O projeto europeu vem sofrendo nos últimos anos os efeitos de um ataque sistemático de movimentos céticos em relação à UE. O crescimento da extrema-direita em países do bloco se empenha em dinamitar a comunidade de nações por meio de suas próprias instituições, como o Parlamento Europeu. Muitas das ações de desestabilização vem sendo articuladas por Steve Bannon e sua organização “O Movimento”, juntamente com a Aliança de Povos e Nações que é um embrião de uma internacional de partidos nacional-populistas de clara tendência fascista. O retrocesso ultraconservador é preocupante pois atinge diversos países como: Itália, Holanda, Áustria, Eslováquia, Hungria, Bulgária, Polônia, Estônia e até países escandinavos que sempre foram apontados como progressistas e possuidores de legislação social invejável. Irromperam com força movimentos xenófobos e anti-europeu na Finlândia, Suécia e Dinamarca. O fato é que a extrema-direita deixou de lado qualquer vergonha que ainda podia ter e se apresenta como realmente é: uma força política apoiada em valores morais conservadores e extremados que utiliza o recurso da violência como forma de impor seus pontos de vista no dia-a-dia dos cidadãos. Colocam-se como uma alternativa a uma Europa que acreditam estar dominada pela ideologia de gênero e por imigrantes. O objetivo desta direita xenófoba e antiliberal já não é interromper a integração europeia, mas transformar sua essência. A UE é um projeto que nasceu e se desenvolveu, sobretudo, para exorcizar, de vez por todas, um passado caracterizado por guerras, caos, pobreza, devastação, ódio, perseguições, ditaduras, injustiças sociais e muito sofrimento. Motivos tão drásticos e cruéis e de tal magnitude que nenhum grande líder ousou pensar que houvesse outro caminho possível. A integração era o destino da Europa. É esse legado que a extrema-direita quer destruir. A democracia parlamentar, sem dúvida, está ameaçada. Há uma desconfiança generalizada em relação a representação política que não é exclusividade da Europa, tratando-se de um fenômeno mundial. Os populistas contribuem ativamente para gerar essa desconfiança, buscando desqualificar a democracia representativa, apelando para o medo do estrangeiro e à discriminação de qualquer minoria. É por isso que estas eleições ao Parlamento Europeu são decisivas para o projeto de construção europeia que pretende evoluir de uma UE dos Estados para uma UE dos povos, fortalecendo os laços comunitários de baixo para cima. Há um dado alentador que aponta para a consolidação do projeto democrático europeu e tem referência em sua população. Pesquisa realizada pelo Eurobarômetro e encomendada pelo Parlamento Europeu, realizada no período de 19 de fevereiro à 4 de março deste ano, destaca que 80% dos europeus acreditam que há mais coisas que os unem do que os separam. Ampla maioria – 68% - considera que seu país se beneficiou por pertencer à UE. Ao serem perguntados sobre qual seria seu voto se houvesse um referendum para a saída de seu país da UE, 68% respondeu que votariam pela permanência. A pesquisa mostra que apesar dos desafios externos e internos enfrentados pela UE nos últimos anos, o sentimento de pertencimento ao bloco e de solidariedade entre os europeus continua forte. O fato é que o mundo multipolar cada vez mais se consolida no jogo geopolítico, se contrapondo a ele um triângulo formado por Trump nos Estados Unidos, a extrema-direita na Europa e o bolsonarismo no Brasil. Este triângulo assume ideias ultraconservadoras, xenófobas e de descrédito no processo democrático que os levou ao poder. Ideias extremistas que se pensava estarem enterradas no passado ressurgem como fantasmas a assombrar a Europa e o mundo. No Brasil, Jair Bolsonaro, representante dessa corrente, é saudado por eles pela sua vitória e por trazer essas ideias para esta parte do mundo. Incita continuamente seus seguidores contra as instituições democráticas como o STF e o Congresso Nacional; apela inclusive para que saiam às ruas para defender seu governo de uma ameaça imaginária criada por ele mesmo ao não exercer de fato o governo. Preocupa-se com questiúnculas secundárias para afastar-se do enfrentamento das grandes questões nacionais como a reforma da previdência, a reforma tributária e o conjunto de leis de combate ao crime. Felizmente o Brasil tem uma sociedade complexa onde vicejam inúmeras organizações da sociedade civil e suas instituições funcionam regularmente. O apelo populista às ruas só pode agravar o ambiente político. O flerte de Jair Bolsonaro com uma ruptura autoritária não encontrará eco, pois embora ainda tenhamos muito a melhorar, já atingimos um estágio de maturidade democrática suficiente para barrar tentativas autoritárias de governar.