O espetáculo das panelas

Food hunter de carteirinha já deve conhecer a Foodpass. Ou, pelo menos, associou a marca a algum evento gastronômico do tipo pop-up promovido por chef de envergadura, em point descolado da capital paulista. Trata-se de uma agência cujo braço forte é uma plataforma on-line que permite aos gourmets se programarem para a próxima experiência dos sentidos e comprar ingressos para as ações. Nina Loscalzo e Priscila Sabará, ambas cozinheiras e idealizadoras desse projeto que já promoveu ou divulgou cerca de 40 eventos nos últimos seis meses, respondem, também pela curadoria da empreitada.“Em outros países, as pessoas já consomem eventos desse tipo como se fossem shows. Nossa intenção é levar a gastronomia a um patamar cultural. Por isso, ela se tornou um pilar ao qual se somam formas de arte e de expressão. Exposições, performances e música, geralmente, estão incluídas nas ações que propomos ou organizamos”, explica Nina. Festas, aulas de culinária, congressos, palestras, feiras, experiências fora da cidade, viagens e visitas a produtores estão na programação.O chef paulistano Rafael Desperite, por exemplo, legou às meninas a promoção do seu tão idealizado Fechado para Jantar, que vira e mexe transforma em restaurante, com direito a fraseado jazzístico, em lugar improvável da cidade. A ideia deu tão certo que houve edição até em Goiânia. No Centro Internacional de Teatro Ecum, ocasião em que o menu foi marchado com o chef Fábio Barbosa, do peruano La Mar. Aliás, é no lá que acontecem as edições mensais do De Terra e Mar, jantar harmonizado a preços convidativos promovido pela Foodpass.Entre tantos cozinheiros bacanas, há que se fazer jus ao pioneiro desse movimento para colocar os chefs na rua: Checho Gonzales, idealizador do badalado O Mercado, junto de Henrique Fogaça (Sal Gastronomia). Um dos eventos de maior sucesso promovido pela Foodpass é, justamente, o Pic Chic, ideia de Gonzales e das meninas, realizado em parceria com a marca Danúbio. Os comes e os bebes são conduzidos pelo chef em locais abertos, no melhor estilo piquenique. Os parques da Aclimação e Luis Carlos Prestes já serviram de cenário.Noutro projeto autoral, o Foodhunters, Nina e Priscila tornam-se guias de uma saga foodie por restôs e botecos de Sampa. A caminhada serve para revelar detalhes suculentos de uma cidade de pedra. São organizados grupos de até 20 pessoas: gente interessada em dedicar uma noite da semana a uma refeição memorável apreciada em três pontos de parada: welcome drink e aperitivos; prato principal e bebida; e sobremesa com café e licor. No final de julho, o tour incluiu os hypados e centrais Paribar, Dona Onça e Ramona. Campinas no roteiro“Estamos com um novo projeto, o Expedições ao Léo, proposta do chef Léo Botto, do Chez MIS. A ideia é que grupos pequenos tenham vivências de integração com a natureza, seguidas de degustações. No dia 14 de setembro, o passeio será pela fazenda de orgânicos Santa Adelaide, em Itatiba, na região de Campinas. As pessoas conhecerão a horta, saberão como os alimentos são cultivados ali, colherão os ingredientes e prepararão alguns pratos sob a orientação do chef”, explica Nina. O passeio, com saída do MIS paulistano, inclui café da manhã, tour educativo, aperitivos, grande almoço em mesa campestre com direito a harmonização (cachaças artesanais regionais, inclusive), apresentação de um violeiro, e, no fim da tarde, se desejarem, os convidados poderão andar a cavalo ou curtir o pôr do sol. O programa R$ 300.Campinas, como já se poderia supor, está no escopo dos sonhos de planejamento da marca. “Sabemos que a gastronomia da cidade é muito forte. Soubemos da realização do Chefs na Praça e estamos cientes de que há uma demanda latente por parte dos comensais. É um nicho a ser explorado”, observa Nina. As comandantes, o conceitoNina é formada em hotelaria e pós-graduada em gastronomia, já trabalhou em restaurantes como Fasano e Gero e com a produção de eventos gastronômicos. Desde 2006, atua como jornalista especializada em gastronomia, desenvolve conteúdo e projetos especiais, a exemplo do livro Fogo Alto. Priscila, nutricionista e cozinheira, já atuou como assistente da badalada chef Ana Soares e também se enveredou pelos caminhos da comunicação – é pós-graduada na área. Em suma, a dupla está na gastronomia há dez anos. “Nos conhecemos durante a formulação de um guia gastronômico para a Folha de S.Paulo, estabelecemos ali uma ponte e resolvemos apostar, juntas, nessa agência de comunicação para restaurantes”, conta Nina.Festivais e eventos gastronômicos alternativos, por assim dizer, já pululavam pelo País, mas o que Nina e Priscila depreendiam era que, apesar de superbacanas, eles não atraíam o público da maneira como os cozinheiros esperavam – e a cozinha brasileira contemporânea merecia. “Percebemos que não era necessariamente divulgação o que faltava, mas administração. A saída foi pensar num sistema que tirasse o autor dos eventos dos afazeres burocráticos, administrados por nós, e facilitasse a vida do cliente”, informa. Um dos primeiros projetos da Foodpass foi desenvolvido para a chef Bel Coelho, que apostou na ousadia dos menus autorais no concorrido Clandestino, evento acolhido no extinto Dui Restaurante. Comensais antenadosQuem costuma aderir aos eventos pop-up são pessoas descoladas, que querem estreitar o contato com os chefs, degustar boa comida, conhecer restaurantes badalados e lugares inusitados sem, necessariamente, desembolsar uma fábula pelo serviço. Um mapeamento feito pela Foodpass aponta que, nos últimos seis meses, 940 convites foram vendidos a pessoas entre 25 e 40 anos – 30,3% dos comensais têm entre 31 e 35 anos. Do público total, 52% é de mulheres. “É um pessoal antenado que não se restringe a foodies, mas é ávido por novas possibilidades de interação social em torno da mesa. Tivemos um evento no Rio de Janeiro, um em Goiânia e a intenção é ampliar a atuação em outros Estados. Há demanda de grandes cidades, como Porto Alegre, por exemplo, e a plataforma que disponibilizamos é uma ferramenta facilitadora, que vem sendo aperfeiçoada”, pontua Nina.