Editorial

O direito de calar e a hora de falar

Correio Popular
04/04/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 21:54

Quando Campinas foi sacudida pelo maior escândalo político de sua história, comprometendo o ex-prefeito Hélio de Oliveira Santos e o seu estafe de primeiro escalão, aí incluída sua mulher Rosely Nassim Jorge Santos, a sociedade campineira quedou-se estarrecida com as denúncias e as implicações graves da corrupção na gestão municipal. Foi por terra o que se desenhou como um novo tempo para a cidade, com a esperança plantada com um discurso que abrangia avanços sociais com o atendimento às demandas do setor privado.

O trauma decorrente da crise imputou à comunidade um longo período de recessão, de travamento de projetos e investimentos, de instabilidade institucional e de funcionamento elementar da máquina administrativa. O longo processo que levou à cassação de dois prefeitos depois da tardia mobilização da Câmara de vereadores resultou em um vácuo prejudicial que abalou setores vitais da economia e viria a determinar o espírito de renovação nas eleições municipais de 2012.

Em todo o tempo, os acusados recusaram-se a se manifestar, nem mesmo para uma clara, explícita e necessária defesa pública das acusações. Pelo contrário, houve um isolamento constrangedor e o ex-prefeito sequer foi visto em público, em dívida com a população que esperava qualquer gesto, seja de arrependimento, de explicação ou de veemente contestação. Nada, apenas o silêncio.

Passado o crítico momento da crise, com a normalidade retornando à vida pública, resta o desenrolar do processo e a condenação dos envolvidos. Um primeiro passo para a busca da justiça no caso foi o anunciado bloqueio dos bens dos denunciados, que poderia ser um trunfo para exigir a devolução do quanto foi desviado dos cofres públicos (Correio Popular, 1/4, A4). Na segunda-feira, dia 1 de abril, em irônica coincidência, aconteceu a oitiva dos denunciados, e a ex-primeira-dama Rosely Nassim Jorge Santos afirmou que gostaria muito de falar e que teria muita coisa para falar das "calúnias" de Aquino. Mas optou pelo silêncio, mais uma vez (Correio Popular, 2/4).

É de se respeitar o direito de se manter em silêncio nesta fase do processo e a orientação que se recebe de advogados. Mas, além da Justiça, existe uma sociedade injuriada, ofendida, que merece um mínimo de consideração e exige explicações. A estes, se deve o preito de respeito e uma palavra de justificativa. Ainda que seja para uma condenação moral pelos danos impostos a todos.

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