JOGO RÁPIDO

O desprezo pelas regras

Coluna publicada na edição de 1º/11/18 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
01/11/2018 às 00:02.
Atualizado em 05/04/2022 às 22:56

O VAR teve participação decisiva na definição do primeiro finalista da Libertadores, mas será assunto para alguma coluna nos próximos dias. Hoje o tema é permissividade da Conmebol com infrações de regras praticadas por clubes argentinos. Nas oitavas de final, o Santos foi punido pela escalação irregular de Carlos Sánchez contra o Independiente. O atleta estava suspenso por uma expulsão na Sul-Americana de 2015, quando defendia o Huracán. O sistema de registros da Conmebol não informava a suspensão e o Santos escalou o uruguaio. Foi punido com a perda da partida por 3 a 0. Na terça, o técnico Gallardo, do River Plate, também estava suspenso. O regulamento, claro, determina que o treinador “não pode acessar o vestiário, túnel, banco de reservas ou área técnica antes nem durante a partida, nem poderá por nenhum meio comunicar-se com sua equipe”. Mesmo assim, Gallardo falou por rádio com seu auxiliar durante toda a partida, como mostrou a TV por repetidas vezes. Como se não bastasse, foi ao vestiário no intervalo. O treinador fez tudo que não poderia: assistiu ao jogo, instruiu seu auxiliar, determinou as substituições e orientou pessoalmente os atletas no intervalo. Como a Conmebol deve punir esse desprezo pela regra? O Grêmio deve recorrer para que o River sofra a punição imposta ao Santos? Notem que o Peixe não agiu de má fé ao escalar Sánchez. O clube consultou um serviço da própria Conmebol antes de mandá-lo a campo. Cometeu um erro sem ter consciência disso e mesmo assim foi duramente punido. O caso do River é o oposto. Gallardo ficou em um camarote para ver o jogo, trabalhou o tempo todo com um comunicador e foi ao vestiário. Tudo isso com suporte do River. Não vou discutir se seria justo, no tribunal, transformar a brilhante virada dos argentinos em uma derrota por 3 a 0. Pelo regulamento, é isso que deve acontecer, mas duvido que a Conmebol tenha coragem de cumprir a própria regra. O que precisa mudar, o quanto antes, é essa conivência com o que é errado. Em 2015, torcedores do Boca Juniors jogaram gás de pimenta no túnel do River Plate, o jogo não terminou e a punição foi branda. Quem não dá bola para uma infração gravíssima certamente não vê nenhum problema quando um treinador suspenso trabalha normalmente. O problema é ignorar a infração de um e punir a de outro, como aconteceu com o Santos. A credibilidade da Libertadores é cada vez menor. E a Conmebol parece se esforçar para que seja assim.

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