JOSÉ ROBERTO MARTINS

O colégio e a Copa

30/10/2020 às 06:46.
Atualizado em 27/03/2022 às 19:12

Na semana passada, durante as comemorações do aniversário de 80 anos de Pelé, vieram à minha mente lembranças que estavam praticamente apagadas. Por incrível que pareça, as lembranças foram trazidas pela Copa do Mundo de 1962, a Copa que Pelé praticamente não jogou. Pelé não jogou, mas, Garrincha jogou! E como jogou!! Por essa época eu estudava no Colégio Culto à Ciência que, além de um templo do saber era também um templo do esporte! Éramos privilegiados! O nosso colégio, além de tudo o que representava, tinha um campo de futebol de dimensões oficiais e um Ginásio de Esportes! Tudo à nossa disposição! E tínhamos também um mestre fantástico: Pedro Stucchi Sobrinho! Ora, na Copa de 62, os jogos não eram transmitidos pela televisão. As partidas eram gravadas em fita pelo Telessistema Mexicano e o material trazido para o Brasil pela Varig, na época uma das maiores companhias aéreas do mundo. Conforme o horário dos jogos, só iríamos assisti-los tarde da noite ou no dia seguinte. Era um regalo! Poder ver todas as jogadas daquele time poderoso e genial era a mais suprema das glórias! Poder ver Pelé se contundindo no começo do torneio, ficando de fora de todos os jogos restantes, foi apavorante! Sem Pelé, como iríamos ganhar a Copa pela segunda vez? Chegou a hora, então, de Mané Garrincha! O endiabrado Mané das pernas tortas resolveu que seriamos campeões do mundo e colocou em campo todas as artimanhas, toda a sagacidade e todas as diabruras que só poderia ter aprendido com o Capeta! E em aula particular! Você, meu leitor, como sempre deve ter algo a perguntar e desta vez a pergunta seria: - o que, diabos, tem a ver o desempenho de Mané Garrincha com o Colégio Culto à Ciência? Explico! Como se fosse de propósito, em todos os dias seguintes aos jogos do Brasil, tínhamos aula de Educação Física no campão do Colégio. Depois da aula, o campo era nosso e era só por em prática os ensinamentos dos craques da seleção! Eu, que só tinha olhos para Garrincha, tinha certeza de que tinha aprendido tudo com ele e entrava em campo pronto para “entortar” os adversários! A certeza era tanta que as jogadas realmente saíam! Uma vez em que o capitão do meu time, Amaral, me substituiu, causou revolta no resto do time e até em quem assistia, caso de meu amigo Hécio Benfatti Junior, que foi tirar satisfações pessoalmente! O interessante é que o espírito de Mané só baixava no dia seguinte. Se fosse jogar bola no outro, voltava tudo ao normal e a bola, coitada, voltava a sofrer... Apesar disso, tive meus momentos de glória futebolística, creditados totalmente à genialidade de Garrincha. O que permitia coisas desse tipo era a estrutura que o Colégio tinha em termos esportivos. O campo de futebol, que há muitos anos não existe mais, era motivo de orgulho para todos os alunos. O Ginásio Professor Alberto Krum foi palco de memoráveis partidas de basquete, vôlei, futebol de salão, handebol, sem contar os torneios de tênis de mesa. Disse da importância do campo e do ginásio, mas, eles não serviriam de nada se não fosse a competência e a abnegação do Professor Stucchi! O homem puxava a moçada! Enquanto na parte interna os professores lutavam para colocar no deserto daquelas cabecinhas um pouco de instrução e conhecimento, seu Stucchi tratava de fortalecer o arcabouço e estruturar os músculos para suportar o peso de tanta sabedoria! Brincadeiras à parte, o professor Stucchi, com seu profundo conhecimento de todos os esportes que praticávamos, seu senso de disciplina e justiça, seu amor pela profissão, era para todos nós um verdadeiro ídolo! Muito se tem escrito sobre os professores do velho Culto à Ciência. Professores de História, Português, Ciências, Matemática e por aí vai, mas, quis eu, hoje, fazer uma homenagem à pessoa extraordinária do Seu Stucchi, um forjador de caracteres, que sempre valorizou a honra e fez do esporte o fio condutor de uma vida digna! Fomos, os alunos do “Culto à Ciência”, duplamente privilegiados! O fantástico Colégio cuidava de nosso corpo, sem jamais esquecer de nossa alma! José Roberto Martins é professor, jornalista e membro da Academia Campinense de Letras (ACL).

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